terça-feira, 22 de dezembro de 2015

CONFRATERNIZAÇÃO DE NATAL DA AQUILETRAS - PALAVRAS DO PRESIDENTE






               
               Um grande avanço da civilização se deu com o Cristianismo.
            Com ele, o homem tomou consciência da importância da sensibilidade, da compaixão, da empatia, isto é, da capacidade de se identificar com outras pessoas, ou com o 'próximo', no linguajar cristão.
            Mesmo os não cristãos precisam reconhecer que ali surgiu, ou foi promovida a preocupação com o outro, com os demais seres humanos.
            Cristianismo nada mais é do que a ideologia de Cristo, independente de igrejas, ou seitas religiosas, que reivindicam para si a primazia, ou a propriedade dela.
            Hoje estamos aqui para comemorar a chegada do cristianismo, mesmo sem a preocupação da data exata do nascimento de Cristo. Não nos importa se ele nasceu exatamente em 25 de dezembro, como muitos imaginam, ou não. Isso é irrelevante.
            O que nos importa realmente é o nascimento dessa ideologia, que veio mostrar a importância, e pregar a vivência, da preocupação com o outro, da paz entre os homens, ou do relacionamento amoroso, para usarmos um termos mais evangélico.
            O Cristianismo teve momentos difíceis, em que seus adeptos se afastaram muito da essência das ideias de Cristo, especialmente na Idade Média, com a implantação do chamado Tribunal do Santo Ofício, ou Inquisição, cujas consequências funestas devem ser muito bem conhecidas de todos vocês, pessoas esclarecidas.
            Mas hoje vemos, com satisfação, o surgimento de um líder, da principal Igreja cristã, o Catolicismo, com ideias arejadas, abertas a tendências, que eu, pessoalmente, não esperava ver ao longo de toda a minha vida, muito embora numa quase certeza de que isso iria ocorrer algum dia.
             Acredito que esse Papa que aí está, gostaria de avançar bem mais, porém nem tudo é possível, ele não tem poder ilimitado.
               Um ponto em que ele certamente gostaria de avançar, e não sabemos se o fará, pelo menos de maneira satisfatória, para os mais ansiosos por mudanças, diz respeito à participação da mulher nas coisas da Igreja.
            Eu costumo dizer que a mulher é o lado melhor da humanidade. Porque ela foi mais preparada, pela natureza, ou por outras entidades, como você preferir chamar, para desenvolver, em grau mais elevado, algumas características próprias e exclusivas do ser humano. Não me refiro à beleza, muito menos a sexo. Refiro-me a duas coisas não muito faladas, não muito apregoadas, mas que eu considero de grande relevância para a evolução humana, para o desenvolvimento da civilização.
            Observem que o avanço das letras, da ciência e das artes está muito ligado a nomes masculinos. Quando se fala da música, por exemplo, quais os grandes nomes que nos ocorrem, de imediato? Beethoven, Bach, Mozart, Schubert, Tchaikovski, e por aí vai, todos nomes masculinos. Na Ciência, vem à frente Einstein, Newton e uma fila interminável de homens, embora aqui apareça a Madame Curie, único ser humano a receber o Prêmio Nobel duas vezes, em duas áreas distintas, física e química, em 1903 e 1911. Na literatura, ocorre-nos Dostoiévski, Gógol, Tolstoi, Flaubert, Víto Hugo, e uma infinidade de homens, embora aqui também apareça uma Virgínia Woolf, uma das mais proeminentes figuras do modernismo em todo o mundo.
            Isso porque a mulher foi incumbida, digamos assim, de voltar-se de maneira muito especial para a maternidade, realizando-se apenas com ela, ao contrário do homem, que quase sempre não se realiza inteiramente com a paternidade.
            Mas por isso mesmo, por sua incumbência de gerar e cuidar dos filhos, bem mais do que os homens, a mulher traz, muito evoluídas, duas coisas que considero de grande relevância para a civilização, para o desenvolvimento da humanidade: a sensibilidade e a compaixão.
            E você pode perguntar: por que a compaixão? Sensibilidade é mais fácil de aceitar e entender. Por que a compaixão? Porque é ela que caracteriza o ser humano de maneira especial. Só o ser humano tem compaixão. Que foi traduzida por Cristo naquela frase "Amai-vos uns aos outros".
            É a compaixão que nos manda olhar o outro, principalmente aquele que sofre, aquele portador de carências: uma deficiência física ou mental, falta de bens materiais, a velhice extrema, a fragilidade da criancinha, sofrimentos os mais diversos, tão característicos do ser humano. Foi a compaixão que levou os seres humanos a se darem as mãos e marcharem rumo à evolução, ao aperfeiçoamento, que os outros animais não tiveram e nunca terão.
            Mas para falar melhor de compaixão, da necessidade que temos de mais compaixão no mundo, passemos a palavra a quem fala disso melhor, com muita arte, muito beleza.
            Música → DRÃO, Gilberto gil.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

PRIMEIRA BATIDA DE CARROS EM QUIXERAMOBIM, E O DOUTOR ÁLVARO FERNANDES


            Por volta dos idos de 1940, havia apenas dois carros (Jeeps) em Quixeramobim: um do Padre Jaime Felício, vigário, e o outro do Doutor Álvaro Otacílio Nogueira Fernandes, então o único médico da cidade (e de grande região do Estado).

            Pois bem. Por incrível que pareça, esses dois carros vieram a colidir, gerando um problema pessoal e até político (como se vê, encrencas por conta de batidas de veículo vêm de longe, tão antigas quanto os próprios carros).

            O evento me foi narrado por meu irmão, Geraldo Pimentel Fernandes, que naquela ocasião dirigia o carro do Doutor Álvaro (sem a presença deste), nosso parente. O motivo foi um "pega" entre os dois motoristas (coisa não revelada na época).

            Padre Jaime era adversário político do Doutor Álvaro, além de extremamente estressado, verdadeiro neurótico (foi meu professor, em Fortaleza, anos depois, mas já então bem mais calmo, nem parecia o mesmo, pelo que sei). Para se ter uma ideia, costumava despejar bacias d'água sobre os casais que namoravam na calçada da igreja (estavam a praticar o que ele gostaria de fazer, e não podia). Expulsava das funções religiosas as mulheres que usassem roupas decotadas. Um verdadeiro misógino (quem tem aversão às mulheres). O celibato muitas vezes provoca dessas coisas, o que mostra não ser nem um pouco condizente com a natureza humana. Cultivou inúmeras inimizades em Quixeramobim, inclusive com o Pedro Coutinho, figura importante na época, que foi até prefeito (ou intendente) da cidade (tenho um depoimento sobre ele, mas fica para outra ocasião).

            Compreensível então que agisse como agiu, na colisão dos veículos: requisitou a vinda de uma equipe de autoridades de Fortaleza, para dirimir a pendenga.

            Meu irmão assistiu o encontro do Doutor Álvaro com o Inspetor, na calçada do seu sobradão, ali onde hoje funciona a sede da Prefeitura de Quixeramobim. Devo lembrar que o doutor foi deputado federal em dois mandatos, tinha grande prestígio não só em Quixeramobim, mas em todo o Estado. Daí a sua atitude, arrogante talvez, para a cultura de nossos dias.

            Ao ser questionado pelo Inspetor:

            - Mas Doutor, o senhor entregar o carro para um rapaz menor de idade (o meu irmão)?... Respondeu aos gritos, abanando a cara da autoridade:

            - O carro é meu, eu entrego a quem quiser... Você tem nada com isso?... Você tem nada com isso?...

            No desenrolar do processo, Geraldo foi tirar novo registro civil, em Senador Pompeu, aumentando a idade...

            Doutor Álvaro estudara na Alemanha, daí por que detinha excelentes conhecimentos médicos para a sua época. Colou grau em medicina no Rio de Janeiro, com a tese 'Moral Insanity' (Insanidade Moral), em que estudou a loucura sob o tríplice aspecto da psicologia positiva, diagnóstico clínico e terapêutica jurídica. Publicou duas obras: 'Sobre o Mal Reinante' (1905) e 'Em Defesa Própria' (1906) e foi um dos fundadores do Centro Médico Cearense, cuja presidência assumiu em 1919. Foi membro do Instituto (Histórico, Geográfico e Antropológico) do Ceará, do qual foi membro, e deixou alguns trabalhos publicados na Revista daquela prestigiada instituição, que podem ser facilmente localizados na sua edição digital (grande repositório da cultura cearense).

            Minha casa, em Fortaleza, está encravada em terreno que pertenceu à sua chácara, grande propriedade (para os padrões atuais), no Bairro Damas, entre a Avenida João Pessoa e o Metrô (na época RVC - Rede de Viação Cearense), abrangendo várias quadras. Lamento imensamente haverem demolido a sua mansão ali - na esquina da Avenida João Pessoa com a rua que hoje tem seu nome, lindo casarão, representativo da melhor arquitetura da capital cearense da época, a poucos metros da minha residência atual. Obviamente, o proprietário temia que o imóvel fosse tombado pelo governo, impedindo alterações e, menos ainda, uma demolição. Grande perda para a nossa história, nossa cultura e nosso patrimônio arquitetônico, tão comum em nosso meio. Sempre que passo ali, e observo o enorme e belo portão de ferro, ainda existente (possivelmente importado), sinto um desagradável sentimento de perda. Quixeramobim foi mais feliz, preservando o casarão do Doutor Álvaro, adquirido pela Prefeitura na administração do Osvaldo Martins, quando eu era chefe de Gabinete. Cheguei a participar das negociações, e sugeri que o prédio se denominasse "Álvaro Fernandes". Osvaldo aceitou a ideia, e chegou a propô-lo nas negociações, mas aparentemente a filha do doutor - Ana Fernandes - não foi muito sensível à homenagem, que não veio a concretizar-se. Muito embora os mais velhos ainda denominem o prédio "Sobrado do Doutor Álvaro", o que naturalmente vai desaparecer com o tempo, na memória do nosso povo. E até esquecer que ele remonta ao século XIX, construído por José Jacinto de Souza Pimentel (que também construiu o antigo prédio da Câmara).

                        Hoje, com justa razão, Doutor Álvaro Fernandes é patrono da Cadeira número 13, da Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes, da Acadêmica Ana Cláudia da Silva Oliveira, historiadora (da qual aguardo estudos melhores e mais detalhados sobre o Doutor Álvaro, inclusive entrevistas com seus familiares, residentes em Fortaleza). Em quase todas as Assembleias da Academia apresentamos a biografia de um patrono, além dos dados biográficos do próprio Acadêmico, e em breve, possivelmente, teremos oportunidade de ouvir nossa amiga Cláudia Oliveira sobre a vida dessa relevante figura da história de Quixeramobim.

João Bosco Fernandes Mendes

Presidente da AQUIletras -
Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes

sábado, 21 de novembro de 2015

HOMENAGEM DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO CEARÁ À AQUIletras NO DIA DA LITERATURA CEARENSE





A Academia de Letras, Ciências e Artes, de Quixeramobim, tem demonstrado um desempenho incomum, eu diria até extraordinário, pois além de uma audiência inesperada ao seu Blog, vem despertando intenso interesse da população, como aquela atenção às fotos da (bela) Assembleia de instalação, quando cerca de 500 a 600 pessoas acessaram a minha página no Facebook. Nosso Blog, na última avaliação que vi (há uns dez dias ou mais), tinha sido acessado por 1.319 pessoas. No momento, esse número deve ter subido consideravelmente, sem dúvida.

               Fico a me perguntar: Quixeramobim foi e será uma terra especial, capaz de coisas incomuns, como aquela assembleia de 9 de janeiro de 1824, em que, assustadoramente, proclamou a república (brasileira) sessenta e cinco anos antes de Deodoro da Fonseca (1889)?

               Não sou bairrista - ou nacionalista - coisas que abomino, e não quero puxar a brasa para a sardinha de nossa terra. Mas a bem da verdade, naquele momento Quixeramobim foi palco de um acontecimento memorável, liderado pelo brilhando Padre Mororó, que então residia na cidade 'Coração do Ceará'. Não é opinião minha, mas dos historiadores. E por isso, fico a imaginar coisas, vendo uma academia tão jovem (e ainda tão pobre), ser homenageada pela Assembleia Legislativa do Estado.

               Não posso deixar de mencionar a atenção (não financeira) que temos tido das autoridades, especialmente do senhor Presidente da Câmara, Everardo Júnior, que semana passada nos prometeu ampliar o espaço que usamos para as nossas reuniões, e melhorar as condições, com climatização, naquele prédio que tanto amo, riquíssimo em reminiscências históricas, de Quixeramobim e mesmo do Ceará (sede histórica da Câmara, à Rua Cônego Pinto de Mendonça, nº 60 - Praça da Matriz). 

               Sinto-me honrado em trabalhar - com afinco - pela nossa Academia, considerando-o um dos últimos projetos (públicos, digamos assim) de minha vida, e sei que isso trará benefícios, educativos, culturais, artísticos e literários, para a nossa terra e nossa população, essa gente sofrida, mas culturalmente tão rica.

               Nossa Academia - é importante frisar - é diferente de todas as que conheço mundo afora. Foi extremamente interessante ter sido ampliada, de 'Letras', apenas, para abranger também 'Ciências e Artes' (proposta do Bruno Paulino, devo lembrar). Tornou-se mais rica, mais interessante, e certamente mais útil à população.

               Estamos tocando, embora sem recursos, alguns projetos que deverão revestir-se de utilidade para a população, e sem dúvida vão dar o que falar. Por exemplo, está em andamento o "Quixeramobim Antigo", reunindo imagens de pessoas e prédios de outros tempos. Já temos um acervo razoável, que está sendo escaneado pelo Elistênio (Alves - funcionário da Campo Maior) devendo depois os originais doados ficarem, provisoriamente, sob a guarda do Carlos Alberto Carneiro (até que a Academia possua uma sede satisfatória). Vale lembrar que as fotos não precisam necessariamente ser doadas à Academia. Uma vez escaneadas, serão devolvidas aos seus donos. A ideia é transformar isso futuramente numa publicação, na qual poderemos mencionar os nomes dos proprietários.

               Outro projeto é o "Nossa Água, Ontem, Hoje e Amanhã". Pretendemos realizar um simpósio, reunindo as principais instituições estaduais ligadas ao problema. Já visitei a FUNCEME, a Secretaria de Recursos Hídricos e a COGERH, e todas se mostraram receptivas (mais do que eu esperava). A ideia é discutirmos a possibilidade de implantação do reuso da água em Quixeramobim, uma iniciativa pioneira no estado, que poderá contribuir significativamente, se implantada, para solução do - enorme - problema da água na cidade.

João Bosco Fernandes Mendes
Presidente da AQUIletras, Academia Quixeramobiense
de Letras, Ciências e Artes





segunda-feira, 16 de novembro de 2015

RECORDAÇÕES DO ALFREDO MACHADO

           Conheci o Alfredo quando fui lecionar em Quixeramobim, nos idos de setenta. Eu vinha do seminário (salesiano) e trazia uma boa bagagem cultural, o que fazia de mim uma peça razoavelmente necessária a muitas coisas, pois naqueles recuados tempos isso não era comum no interior. Quem podia buscava a capital[1]. E por isso (e algum conceito já adquirido no Colégio Andrade Furtado, onde lecionava português e inglês) ele me convidou para Chefe de Gabinete, o que eu aceitei de pronto.

            O que mais me chamou atenção, de início, foi a rapidez com que decidia as coisas, o que admiro num administrador. Parecia que já tinha as informações para os problemas que lhe levava (eu e qualquer outro).

            O Gabinete vivia cheio, de gente de todos os níveis, um desfilar interminável. Problemas de todos os tipos, dos mais triviais aos mais sérios. Um conflito de terras (que muitas vezes não ia para justiça, ele resolvia ali mesmo), uma cerca fechando um caminho, brigas de vizinhos, tirar um filho ou um marido da cadeia, e vai por aí afora.

            Intercedeu por muita gente presa pela repressão militar (geralmente através do Governador). Um deles foi meu tio Joaquim Fernandes, um grande homem, de saudosa memória, então líder sindical, função muito visada pelos órgãos da Ditadura. Eu redigia as "defesas", sob as orientações dele, é claro.

            Quando viajávamos pelo interior do município, o carro parava mais do que jumento de verdureiro: conhecia todo mundo, de uma ponta à outra do município, se duvidar, até o nome do cachorro. Viagens muitas vezes desconfortáveis, estradas com frequência ruins. Às vezes a fome batia, e ele 'entupia' de casa adentro, até a cozinha, pegava uma colher e metia nas panelas. Naturalmente, a dona da casa ficava mais alvoroçada do que galinha que cria pato na beira d'água. Ver Sua Excelência, o senhor Prefeito, na sua pobre cozinha, mexendo nas panelas, era demais. Vi alguns criticarem esse modo de ser. Mas aquilo gerava uma intimidade, amizade, que geralmente ficava para o resto da vida. Por isso era imbatível, politicamente, pelo menos naqueles tempos. Tanto, que depois foi deputado, uma façanha, para um município tão pequeno (na época).

            Uma vez eu quase atropelava um dos filhos deles (não lembro mais qual dos três), de maneira braba. Estávamos trabalhando (não sei se no Transvaal), e eu tinha ido pegar um documento, às pressas. Vinha rápido, e quando ia chegando à casa, o menino atravessou-se na frente do meu carro. Freei nas últimas. Alfredo e Teresa estavam ali, vendo tudo. Ela correu aos gritos, e ele foi pegar o menino. Mas, apesar das emoções em pandarecos (comigo então, nem se fala), nenhuma acusação sobre mim, nenhuma reclamação. Aquilo me sensibilizou.

            Quando levei a ideia para fundarmos a biblioteca pública, ele bateu o martelo de bate-pronto: vamos fazer, e ela vai se chamar Ismael Pordeus. Parecia que já tinha as informações na cabeça, para tomar a decisão com tanta rapidez. Com poucos dias eu fui a Fortaleza comprar o primeiro acervo de livros, e voltei com o carro abarrotado. A primeira diretora foi a Ana Costa Martins, a quem andei ajudando. Começou a funcionar com empréstimos, uma coisa difícil. Algum tempo depois faríamos uma gincana cultural, com os estudantes, em que conseguimos mais de 4.000 livros para a biblioteca.

            Foi curto o período em que trabalhamos juntos, devido à candidatura dele para deputado. Até me convidou para trabalhar na campanha, mas eu preferi continuar no Gabinete, com o Osvaldo. Mas nunca esqueci muitos detalhes vivenciados com ele, trago muita coisa na memória, com saudade (aliás, de todo o Quixeramobim daqueles bons tempos[2]).

            Poucos anos depois, eu entrava no Banco do Nordeste, me casei e fui morar numa casinha humilde, pros lados do Antônio Bezerra (até que podia morar melhor, mas queria economizar, para construir a casa onde ainda hoje moramos).

            Lá um dia ele bateu lá, com a Tereza. Não sei se então era deputado ou Secretário de Estado. Mas o certo é que ficamos tão encabulados, em recebê-los numa casinha quase miserável, tal qual aquelas senhoras que o viam mexer nas panelas.

            Certa vez, fui aprovado num concurso público federal (prefiro não descer a detalhes), e os órgãos de repressão não me deixaram assumir. Ele soube e veio me perguntar se havia algum 'engancho' político. Eu menti: disse que não, que não fora selecionado em alguma coisa. Na verdade eu tinha vergonha (ou medo, sei lá) de revelar que fora envolvido com as esquerdas, um 'subversivo', como diziam.

            Mas hoje fico feliz de nunca haver pedido qualquer favor, unzinho sequer. Sempre procurei conquistar as coisas por merecimento.

            Assim como a amizade dele: puro merecimento. Hoje ficou o orgulho daquele que eu fui (talvez melhor do que sou hoje).
            E saudades.


[1] Abordei minhas razões para buscar Quixeramobim naquele tempo, na crônica "Crime e Castigo, o Grande Romance", publicada neste blog.
[2] Às vezes me pergunto se era tão bom porque eu era jovem, essa coisa maravilhosa, que a natureza nos toma sem pedir licença.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

PADRE MORORÓ, FIGURA EXTRAORDINÁRIA DA HISTÓRIA DO CEARÁ, ESPECIALMENTE DE QUIXERAMOBIM

            Quantas pessoas são capazes de dar a vida (literalmente: papocar, bater a caçoleta), por suas ideias, seus projetos, seus ideais? Pouquíssimas (entre elas, Jesus Cristo). Eu, por exemplo, não sou capaz disso, nem pretendo ser (quero é viver muito). O padre Mororó foi uma dessas, e o fez com coragem e dignidade mais difíceis ainda de se encontrarem.

            Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Melo (1778 - 1825), segundo o Barão de Studart[1], nasceu em Riacho dos Guimarães, hoje Groaíras, no norte do Ceará[2], de Félix José de Souza e Oliveira, do Rio Grande do Norte, e Teodora Maria de Jesus Madeira, filha do português Manuel de Matos Madeira, "um alto titular da nobreza de Portugal, de nome diverso desse pelo qual se fazia tratar, e evadido da sua terra ante a mortal perseguição desenvolvida contra a sua família pelo Conde de Oeiras, poderosíssimo Ministro d'El-Rei Dom José."

            Mororó (sobrenome adotado por ele, um costume da época, significando 'madeira muito rígida') ordenou-se no seminário de Olinda (1802), onde também estudou ciências físicas e naturais. Era um tremendo intelectual, como informa Studart: "profundo latinista, bom pregador sacro, jurisconsulto, botânico, foi Mororó também o diretor do primeiro jornal publicado no Ceará, o Diário do Governo do Ceará, saído à luz a 1º de abril de 1824".

            Foi professor de latim da vila do Aracati, demitindo-se em dezembro de 1821, e transferindo-se para Campo Grande (hoje Guaraciaba do Norte). Daí passou para a Barra do Sitiá (Quixeramobim), depois para a fazenda Canafístula[3], e em seguida para a Vila de Quixeramobim (residindo na Praça do Cotovelo, hoje Praça Coronel João Paulino). Aí, liderou a realização da sessão da Câmara, de 9 de janeiro de 1824, em que foi proclamada a república (no Brasil), fato que levaria ao seu fuzilamento.[4] Diz Studart: "foi esse o início da revolta [Confederação do Equador], que tantas lágrimas e tanto sangue custou ao Ceará. Destroçados os republicanos em Santa Rosa, feita a contra-revolução do Crato, proclamada de novo a monarquia por José Félix, que ficara na presidência da Província, como substituto de Tristão Gonçalves, seguiu-se a perseguição dos principais chefes, a captura dos cabeças da república. O Padre Mororó, preso em Fortaleza, à Rua dos Mercadores, hoje [início do século XX] Sena Madureira, e condenado à pena última, como o foram também seus companheiros de ideias [Pessoa] Anta, [Azevedo] Bolão, [Feliciano José da Silva] Carapinima e Pereira Ibiapina[5], foi fuzilado na atual Praça dos Mártires[6], ângulo norte do Passeio Público, a 30 de abril de 1825."

            Diz João Brígido[7]:

"O padre Gonçalo era de talhe elegante, alto, faces rosadas, expressão graciosa e vivaz. Nenhuma fortuna possuía além dum escravo, seu amigo de infortúnio, a quem legou a liberdade. Generoso até a prodigalidade, não soube tirar partido de sua ilustração, nesses tempos, em que eram dum preço inestimável os trabalhos da inteligência [ou da escolaridade]." "Era de uma memória pasmosa. Lecionava o latim, sem abrir nenhum dos clássicos, notando todavia a menor omissão que cometessem os seus alunos. Fazia versos latinos de grande perfeição."

            Viriato Correia, na Revista do Instituto do Ceará de 1924, assim descreve a sua execução:

            "Fortaleza, sob aquele maravilhoso sol do norte, acordou como para uma festa. Era um espetáculo novo a que toda gente queria assistir.

            Às sete da manhã os dois condenados [Mororó e João de Andrade Pessoa Anta] são entregues aos padres para a confissão.

            Na praça do quartel [atual quartel da 10 Região Militar], apinhada de povo, os réus apareceram. Quase ninguém [re]conhece o padre Mororó, que está ao lado de Andrade Pessoa. Naqueles poucos meses de cadeia os seus cabelos pretos tinham ficado como uma pasta de algodão.

            A brigada, sob o comando do major Queiroz Carreira, forma um quadrado para despir Andrade Pessoa das honras militares. No meio do largo há um oratório onde se vai fazer a desautoração [privação do cargo ou dignidade, como medida punitiva] das ordens sacerdotais de Mororó. O padre recusa-se: troquem-lhe apenas a batina pelas roupas de réu.[8] Vestem-lhe então a alva dos condenados. A camisola não lhe vai além dos joelhos.

            Mororó olha demoradamente a vestimenta, ajeita-se dentro dela, puxa-a para baixo o mais possível para lhe cobrir os joelhos e, vendo a figura ridícula que fazia com uma alva tão curta, diz com um sorriso de ironia cortante:

            - Louvado seja Deus, que até a última camisa que me dão é curta.

            Rufam os tambores, soam as cornetas. Vai começar a marcha em rumo do local escolhido para a execução. O padre está de uma serenidade que a todos assombra. Ao seu lado Andrade Pessoa, vai dar os primeiros passos. Naquela hora horrível da sua vida, Mororó não se esquece de que é um homem educado - dá a direita a Andrade Pessoa. Ladeados pelos padres, os dois republicanos, no quadrado das tropas, seguem. As ruas cada vez mais se enchem. Nas janelas as famílias apinham-se. Há gente até trepada nas árvores e nos telhados. Mas toda aquela multidão está silenciosa e aterrada.

            O préstito caminha [pela Rua de Baixo, hoje Sena Madureira] para a capela do Rosário [então Igreja Matriz]. Os sinos de todas as igrejas tangem a finados, entristecendo o fulgor daquela esplendente manhã de sol.

            Ouve-se a missa que frei Luiz do Espírito Santo Ferreira celebra. Segue-se depois, lentamente, a caminho da praça do suplício [pela atual rua Guilherme Rocha, depois pela Rua da Palma, atual Major Facundo]. No meio do largo, há um grupo de homens e crianças trepados. A carga é tão grande que, no momento em que os condenados passam, o galho do cajueiro se parte e todo o grupo vem ao chão.

            O padre Mororó estaca por um instante. Embora marchando para a morte, é o primeiro a rir[9] do trambolho do pessoal do cajueiro.

            Na praça em que se vai dar a execução, a multidão é tanta que a custo as tropas conseguem abrir passagem.

            Mororó é colocado na coluna da morte.

            Um soldado lhe traz a venda para lhe pôr nos olhos.

            - Não, responde ele, eu quero ver como isso é.

            Vem outro soldado para colocar-lhe sobre o coração a pequena roda de papel vermelho que vai servir de alvo. Ele detém a mão do soldado:

            - Não é necessário. Eu farei o alvo.

            E cruzando as duas mãos sobre o peito, grita arrogantemente para os praças:

            - Camaradas, o alvo é este!

            E num tom de riso, como se aquilo fosse uma brincadeira:

            - E vejam lá! Tiro certeiro, que não me deixe sofrer muito!

            Houve na multidão um instante cruel de ansiedade. Tinha sido ordenada a pontaria. Todo o vago rumor do povo tinha cessado completamente.

            - Fogo!

            A descarga estrondou.

            O padre tombou sem vida. A seus pés tinham caído três dedos da mão que as balas deceparam."

            Como se vê, Padre Mororó liderou um dos momentos mais marcantes da história de Quixeramobim, hoje registrado nos anais da história do Brasil. E os autores sempre se referem de maneira muito elogiosa, aos participantes daquela sessão da Câmara quixeramobiense. Daí por que, a Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes - AQUILETRAS, inclui o destemido padre entre os seus patronos.

João Bosco Fernandes Mendes

Presidente da AQUILETRAS



[1] No seu (hoje raríssimo) Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense, publicado entre 1910 e 1915.
[2] Segundo o site 'Forquilha Ontem Hoje e Sempre', Mororó "Nasceu a 24 de julho de 1778, na fazenda Santa Bárbara, à margem do riacho Sabonete, região conhecida pelo nome de Arribita, termo da freguesia e do município de Sobral, atualmente território de Forquilha." A fonte de sua informação é o batistério de Mororó, publicado na obra 'Três Riachos, Uma Forquilha', de Joab Aragão e Jeta Loiola, de 2006, paginas 206 a 214.
[3] Canafístula Velha - ver minha crônica 'Canafístula Velha, Sítio Arqueológico da História de Quixeramobim", publicada no blog da AQUILETRAS (aquiletras.blogspot.com.br). O que faria ele por lá? Certamente convidado pelo Capitão-Mor José dos Santos Lessa, o homem mais poderoso de Quixeramobim, proprietário da fazenda Canafístula, sua residência, pai da Marica Lessa. A presença de Mororó por lá indica, talvez, que na fazenda se desenvolvia atividades intelectuais e sociais.
[4] Na Câmara de Quixeramobim existe um quadro com uma cópia dessa ata.
[5] Pai do Padre Ibiapina.
[6] Na época, Campo da Pólvora.
[7] Revista do Instituto do Ceará, 1889.
[8] Paulino Nogueira, em trabalho publicado em 1894 (na Revista do Instituto do Ceará), diz que, na verdade, as autoridades o dispensaram da humilhação, o que não ocorreu com Frei Caneca, em Pernambuco.
[9] Diz Paulino Nogueira: "esboçou um ar de riso", o que é mais realista.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

1958, ANO FATÍDICO PARA QUIXERAMOBIM


               Não foi por acaso que situei o meu romance O Lua (ainda não lançado – estou tentando fazê-lo através de uma grande editora, em âmbito nacional) no ano de 1958, tendo como cenário principal a cidade de Quixeramobim.

               Pela minha crônica História das Secas no Ceará, publicada há poucos dias, vê-se que foi o ano mais seco no período de 1951 a 2013, ou talvez em todo o século XX (não dispomos das precipitações anuais até 1950) com míseros 206,87 milímetros. Pelo critério da FUNCEME, classifica-se como seco o ano com precipitação igual ou inferior a 493,2 milímetros. Portanto, as chuvas daquele ano atingiram 41,9% do mínimo necessário para se classificar o período como 'inverno'.

               Como os sertanejos não dispunham da assistência financeira hoje existente (aposentadorias para o trabalhador rural e outros benefícios, como as diversas 'bolsas'), as secas constituíam períodos de pavor, a fome rondando as populações, como epidemia de peste.

               Os camponeses dirigiam-se à cidade, um saco no ombro, e iam-se aglomerando, mais e mais, diante dos armazéns, mercados e lojas que negociavam gêneros alimentícios. Todo o comércio cerrava as portas, tão logo percebiam aqueles ajuntamentos. Se o prefeito não tomasse a iniciativa imediata de distribuir alimentos, logo vinha o saque generalizado. Portas arrombadas e lojas esvaziadas pela massa famélica.

               A solução eram as 'frentes de serviço', grandes construções para oferecer trabalho braçal. Em 1958 foram implantadas duas obras importantes: a barragem, que aí está, dois quilômetros a montante da cidade, e trechos da Estrada do Algodão. Os canteiros de obras, regurgitando como formigueiros, com milhares de homens seminus, empurrando carrinhos de mão, tangendo animais, manuseando enxadas, pás e picaretas, máquinas enormes roncando como animais pré-históricos, mais pareciam cenários bíblicos, dos filmes de Cecil B. de Mille (v.g. Os Dez Mandamentos).

               Para aumentar a movimentação, o furdunço, a campanha política roncando no mundo.

               Disputavam a Prefeitura a Dona Aldamira Guedes Fernandes (esposa do Dr. Joaquim Fernandes), pelo PSD, e o Sr. Álvaro Araújo Carneiro, pela UDN.

               A 'mídia' da época eram as irradiadoras (ou simplesmente 'radiadoras'), com seus amplificadores montados nos postes, bradando o dia inteiro e entrando pela noite. Quem fosse premiado com uma besta daquelas bufando em sua porta, tinha que rezar para se adaptar àquela zoeira infernal, arranjar algodão para os ouvidos, ou... mudar-se.

               Pelo PSD, a Voz de Cristal, que viria a transformar-se na Rádio de mesmo nome, que aí está. Pela UDN, a Voz da Liberdade.

               Ninguém era neutro. Imperava a lei 'Quem não está comigo, é contra mim'. As diferenças políticas, mais do que hoje, transformavam-se em inimizades profundas, eternas, quando não, em arranca-rabos, batalhas campais. Quem não apreciava, ou não tolerava, as intriguinhas, as rasteiras, as invencionices maldosas dos cabos-eleitorais e dos desafetos, rezava para aquele inferno passar logo.

               Uma ocorrência violenta, de grande porte, iria marcar aquela campanha e ficar na memória da população da época, e ainda hoje é narrada por muitos, com riqueza de detalhes (e alguns enganos, como sempre ocorre na tradição oral).

               Um dos principais líderes da UDN (mas não candidato) era José de Matos Luna, fazendeiro originário de outro município, e chegado a fazer justiça com as próprias mãos, segundo se comentava.

               Diz a tradição que ele teria determinado à Voz de Cristal parar com a propaganda em favor do partido contrário, isto é, da Dona Aldamira. O proprietário da Voz de Cristal, Fenelon Augusto Câmara (pioneiro no serviço de radiodifusão em Quixeramobim, e hoje um dos patronos da nossa Academia, a AQUILETRAS) pede ajuda aos correligionários, que mandam quatro homens, então atuando na guarda do DNOCS, criada por conta do serviço da barragem.

               De acordo com o processo existente, com quase mil páginas (do qual tenho cópia), no dia marcado Luna dirige-se aos estúdios da Voz de Cristal, com visíveis intuitos provocatórios (afinal, ali era reduto de seus adversários políticos).

               Ocorre um tiroteio, transmitido "ao vivo" pela amplificadora, no qual morre Luna e outros saem feridos. Um verdadeiro dia de juízo para Quixeramobim.

               Em torno desse evento, construí um romance, contendo alguns fatos reais e outros fictícios, no qual descrevo a cultura e a pequena Quixeramobim da época. Considero esse o melhor trabalho que realizei, entre a dezena de livros que já escrevi. O título: O Lua – Romance-Reportagem, Ambientado em Quixeramobim e Fortaleza, de Meados do Século XX, Mesclando Realidade e Ficção de Forma Envolvente, Fruto de Muita Pesquisa.

               No momento esse trabalho encontra-se sob análise em uma editora de São Paulo, e aguardo sua resposta, quanto a uma possível publicação em âmbito nacional.

               De 1958 para cá, Quixeramobim mudou horrores. Qual uma criança que se transforma em adulto. Algumas coisas para melhor, outras nem tanto, como sempre ocorre com o crescimento econômico.

               No momento enfrentamos mais uma seca, de grandes proporções. Como se vê na crônica - História das Secas no Ceará, já mencionada, quase a metade dos anos deste século foram secos, algo inédito e que pode indicar uma deterioração das condições climáticas, geradoras de chuva.

Felizmente, não temos mais a massa de famintos, sacos às costas, invadindo o comércio. Os benefícios dos governos aliviam suas fomes, suas agruras.

Infelizmente (ou não), o sertão quase não é mais uma fonte de sobrevivência, para a prática de culturas de subsistência. Ninguém acredita mais na agricultura sertaneja, no que fazem muito bem. O que se consegue em um ou dois anos de boas chuvas, é tragado implacavelmente por um só ano de seca. O sertanejo transforma-se em citadino (habitante da cidade), o interior vira em deserto, de homens e animais, como falei na minha crônica O Sertão, um Deserto, publicada há poucos dias.

Quer mais detalhes daquele ano fatídico, 1958, leia o meu livro 'O Lua', que, de um modo ou de outro, chegará à população em breve. Espero não haver ferido suscetibilidades, ou mal entendidos, algo tão comum e tão frequente, quando se usa a linguagem escrita.

Em 1958 não havia as redes sociais, celular, Facebook, televisão, nem mesmo as rádios. As maledicências, os fuxicos, os boatos maldosos, eram transmitidos boca a boca, ou quando muito, por uma carta-anônima (felizmente, o Facebook não admite o anonimato, o que permite identificar exatamente a fonte do comentário pernicioso).

1958 tinha essa vantagem, a impossibilidade de denegrir os outros através das redes sociais, mas, em compensação, uma infinidade de agruras para as vítimas da seca.

A campanha política, tão agitada, violenta e até perigosa, foi vencida por Dona Aldamira (ainda hoje na memória de inúmeros quixeramobienses), que iria fazer uma boa administração, humana e de muito socorro aos humildes e necessitados, com aquela sensibilidade que tanto caracteriza a personalidade feminina (nem sempre, mas bem mais do que nos homens).

No meu livro, já mencionado (O Lua), abordo a cultura da campanha política, usando a ficção literária. É bom frisar que o romancista goza de liberdades para criar, poetizar, fantasiar. Muitas pessoas, menos esclarecidas, são levadas a pensar que tudo existente em um romance é real, aconteceu efetivamente, o que não é verdade. O romancista pode criar o que bem entender, usando sua imaginação, um dos maiores dons da mente humana, origem de toda a arte – tanto literária, como musical, teatral, plástica e tudo o mais.

Repisando o assunto, aquele livro – ainda não lançado, como já disse, classificado como 'romance-reportagem', contém alguns fatos históricos, mas nem tudo ali é história. Caso contrário, não seria 'romance'. Mas mostra muito bem (creio) a cultura da época, do Quixeramobim de 1958, ano imorredouro na memória da população, da cidade e de todo o município.

 
João Bosco Fernandes Mendes
Presidente da AQUILETRAS,
Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes