terça-feira, 20 de dezembro de 2016

CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA DA AQUILETRAS (17.12.2016): MAIOR EVENTO CULTURAL DO ANO DO SERTÃO CENTRAL

         A Confraternização Natalina da AQUILETRAS firma-se cada vez mais como o MAIOR EVENTO CULTURAL DO ANO DO SERTÃO CENTRAL. Uma ideia do evento do dia 17 último:
 
- Abertura, pelo Presidente Bosco Fernandes, com o tema: AS MARIAS NA CONSTRUÇÃO DA CIVILIZAÇÃO (ver abaixo).
- Sessão Musical de altíssimo nível, com temas cristãos e outros.

- Homenagem a quatro mulheres, como Sócio Benemérito (o Houaiss classifica  
  'sócio' como substantivo masculino): Ivana Carneiro Fernandes, Idalba Chaves Simão, Sônia Costa (Prefeita Eleita de Madalena), Ângela Borges (Secretária da Academia Quixadaense de Letras) e Menção Honrosa a Júlio César da Silva, aluno-prodígio da Escola Profissionalizante Dr. José Alves da Silveira. Ver biografias acima.

- Ratificação (mediante rápida votação) de duas mulheres para patronas da
  Academia: Ana Montenegro e Aldamira Fernandes


- Apresentação do livro de minha autoria, O Lua, romance ambientado em
   Quixeramobim de 1958.

- Leitura de reivindicação, às autoridades, da disponibilização do antigo prédio da
   Câmara, em sua totalidade, à Academia (já foi cedida uma parte, do andar
   superior).

- Breve encenação sobre o Natal, por um grupo de Acadêmicos.


- Encenanão sobre o Natal por Solyna Letícia Pimentel Amâncio (grande revelação.



- UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA
João Bosco Fernandes Mendes

            Numa análise retrospectiva ao longo dos séculos, vemos facilmente que o rol dos luminares das letras, das ciências e das artes, é constituído essencialmente de homens. Nas letras: Dostoiévski, Tolstói, Gógol, Flaubert, Shakespeare, Cervantes, Dante Alighieri, Ovídio, Machado de Assis, Graciliano Ramos, para citar apenas dez.
            Aqui, na literatura, vamos encontrar um grande nome feminino, já nos primórdios do século 20, Virgínia Woolf, uma das maiores romancistas do século XX e grande inovadora do idioma inglês. Seu primeiro romance é de 1915. Era homossexual, mas manteve o casamento com Leonard Woolf até o fim, por 29 anos, e eram bons amigos. Emily Brontë (século XIX), autora de O Morro dos Ventos Uivantes, de 1847, e Kathleen Mansfield (também do século XIX), que começou a publicar em 1911, foram outras pioneiras de destaque, mas não ao nível de Virgínia.
            Nas ciências, temos algo muito semelhante. O rol de luminares, ao longo dos séculos, é essencialmente masculino, a começar por todos os gregos que se destacaram  (Eratóstenes, Aristóteles, Platão, Hiparco, Tales de Mileto, Arquimedes, Euclides, Pitágoras, etc.), e prossegue pelos séculos afora, com  Ptolomeu (século II), Copérnico (séculos XV e XVI), Galileu (séculos XVI e XVII), Kepler (séculos XVI e XVII), Isaac Newton (séculos XVII e XVIII), até descambar para uma plêiade de cientistas do século XX, capitaneados por Albert Einstein, talvez o maior gênio de todos os tempos.
Também aqui, mais ou menos à mesma época em que se destacaram as literatas, surge Madame Marie Currie (séculos XIX e XX), primeiro ser humano, e única mulher, até hoje, a ganhar o prêmio Nobel duas vezes (física em 1903 e química em 1911).

E vem a nossa grande pergunta: por que as mulheres demoraram tanto, milênios, para se destacarem nas letras, nas ciências e nas artes?
A explicação, quase unânime, diz que isso se deveu à opressão dos homens, que as impedia de estudar e dedicar-se à vida intelectual. Embora essa opressão tenha existido mesmo, minha tese vai muito além. Primeiro, vem a pergunta: por que elas não se revoltaram, ao longo de séculos ou milênios? A revolta faz parte do comportamento humano, e muito estimulado pela inteligência. A revolta fez parte da evolução da humanidade, desde priscas eras.
Para mim não há dúvida de que por trás disso está o condicionamento feminino para a maternidade. Ter e criar filhos sempre realizou, e realiza, a mulher, até hoje. Isso lhes bastou, ao longo da evolução humana. Ao contrário dos homens, que não veem na paternidade uma realização psicológica. Seu interesse em ser pai prende-se mais a uma demonstração de macheza e a ter um herdeiro para o governo do seu clã.
Desde os tempos primitivos, as mulheres se voltavam para o interior do lar, ter e criar os filhos, e cuidar da alimentação da família. O homem, nessa distribuição de tarefas, voltava-se para fora: buscar o sustento, pela pesca e pela caça, e responder pela segurança, fazendo a guerra, que sempre acompanhou o ser humano. E cuidar dos filhos moldou a mulher, como um ser mais dócil, mais delicado e mais sensível. Já o homem, o guerreiro e caçador, desenvolveu em muito maior escala a agressividade, sem a qual não se faz a caça, muito menos a guerra. Foi essa divisão de tarefas que criou a dicotomia entre macho e fêmea na espécie, homem e mulher.
E assim chegamos aos nossos dias, conduzindo em nossos genes esse dimorfismo, essa diferenciação entre homem e mulher. Ainda hoje a mulher é quem responde pelos cuidados da prole, e numa escala maior do que geralmente se imagina. A união da família depende profundamente dela. Alguém já disse que, quando morre um pai, desfaz-se uma união conjugal. Quando morre a mulher, desfaz-se uma família. As separações conjugais, em sua imensa maioria, devem-se ao homem, quase sempre formando uma nova família, com uma mulher mais jovem, e largando a prole que possuía. Isso não faz parte dos impulsos - ou compulsões - femininos (salvo exceções). A mulher realiza-se com a manutenção da família ao seu redor, como a galinha que agasalha os pintinhos sob suas asas, com ou sem um marido. E não raro, com a separação, ela assume o sustento material dos filhos. Também é ela, mais do que o homem, quem implanta a cultura que haverá de moldar o comportamento dos filhos pela vida afora.
      Mas eis que chegamos ao século XX.
      E a mulher descobre que ser mãe não a impede de trabalhar fora de casa, e até mesmo disputar com os homens o privilégio de serem luminares dos frutos da inteligência, as letras, as ciências e as artes. Como aquelas pioneiras, Madame Curie e Virgínia Woolf. E que ser mãe é algo instintivo, desligado da razão, que os animais em geral também o fazem, e muito bem. Que a inteligência é o que distingue o ser humano dos outros animais. E que ela, mulher, pode e deve explorar a sua inteligência, sem abdicar de sua missão de mãe.
      Pelo que falei antes, podemos tirar uma conclusão que para alguns soará polêmica: a mulher chegou ao século XXI mais preparada para a civilização do que o homem. Pois este obviamente não perdeu, em seus genes, os impulsos de agressividade, tão necessários para guerrear e caçar. E hoje, esses impulsos agressivos mais o atrapalham do que ajudam. É graças a eles que temos tantas mortes violentas, assaltos e estupros, quase uma exclusividade masculina. Uma evidência disso são os números de encarcerados. Em 2014, enquanto a população carcerária brasileira total era de 622 mil, a população feminina era de 37 mil, isto é, menos de 6 por cento. Os homens respondiam pelos demais 94 por cento, 584 mil. E é porque em 14 anos, de 2.000 a 2014, esse número subiu 567%: em 2.000 tínhamos apenas 5.600 mulheres encarceradas, o que representa menos de um por cento da população total de 2014.
            Um exemplo do que disse aqui pode ser visto na família Jesus, Maria e José. Você sabe o que aconteceu com José, após o evento  em que Jesus, com doze anos de idade, se perde dos pais e é encontrado entre os doutores? Não, não sabe. Porque ninguém sabe. Os evangelhos não falam de quando ou como ele morreu. Enquanto eles registram Maria ao lado do filho, até mesmo quando ele é crucificado. E a ela Jesus dirige algumas de suas últimas palavra, encomendando-a ao seu melhor amigo, como fala o evangelista: "Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava [João], disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa."
      Mas, para falar dessa família, nada melhor do que a própria Maria, que eu trouxe aqui, especialmente para dizer algumas coisas a vocês.