terça-feira, 20 de dezembro de 2016

CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA DA AQUILETRAS (17.12.2016): MAIOR EVENTO CULTURAL DO ANO DO SERTÃO CENTRAL

         A Confraternização Natalina da AQUILETRAS firma-se cada vez mais como o MAIOR EVENTO CULTURAL DO ANO DO SERTÃO CENTRAL. Uma ideia do evento do dia 17 último:
 
- Abertura, pelo Presidente Bosco Fernandes, com o tema: AS MARIAS NA CONSTRUÇÃO DA CIVILIZAÇÃO (ver abaixo).
- Sessão Musical de altíssimo nível, com temas cristãos e outros.

- Homenagem a quatro mulheres, como Sócio Benemérito (o Houaiss classifica  
  'sócio' como substantivo masculino): Ivana Carneiro Fernandes, Idalba Chaves Simão, Sônia Costa (Prefeita Eleita de Madalena), Ângela Borges (Secretária da Academia Quixadaense de Letras) e Menção Honrosa a Júlio César da Silva, aluno-prodígio da Escola Profissionalizante Dr. José Alves da Silveira. Ver biografias acima.

- Ratificação (mediante rápida votação) de duas mulheres para patronas da
  Academia: Ana Montenegro e Aldamira Fernandes


- Apresentação do livro de minha autoria, O Lua, romance ambientado em
   Quixeramobim de 1958.

- Leitura de reivindicação, às autoridades, da disponibilização do antigo prédio da
   Câmara, em sua totalidade, à Academia (já foi cedida uma parte, do andar
   superior).

- Breve encenação sobre o Natal, por um grupo de Acadêmicos.


- Encenanão sobre o Natal por Solyna Letícia Pimentel Amâncio (grande revelação.



- UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA
João Bosco Fernandes Mendes

            Numa análise retrospectiva ao longo dos séculos, vemos facilmente que o rol dos luminares das letras, das ciências e das artes, é constituído essencialmente de homens. Nas letras: Dostoiévski, Tolstói, Gógol, Flaubert, Shakespeare, Cervantes, Dante Alighieri, Ovídio, Machado de Assis, Graciliano Ramos, para citar apenas dez.
            Aqui, na literatura, vamos encontrar um grande nome feminino, já nos primórdios do século 20, Virgínia Woolf, uma das maiores romancistas do século XX e grande inovadora do idioma inglês. Seu primeiro romance é de 1915. Era homossexual, mas manteve o casamento com Leonard Woolf até o fim, por 29 anos, e eram bons amigos. Emily Brontë (século XIX), autora de O Morro dos Ventos Uivantes, de 1847, e Kathleen Mansfield (também do século XIX), que começou a publicar em 1911, foram outras pioneiras de destaque, mas não ao nível de Virgínia.
            Nas ciências, temos algo muito semelhante. O rol de luminares, ao longo dos séculos, é essencialmente masculino, a começar por todos os gregos que se destacaram  (Eratóstenes, Aristóteles, Platão, Hiparco, Tales de Mileto, Arquimedes, Euclides, Pitágoras, etc.), e prossegue pelos séculos afora, com  Ptolomeu (século II), Copérnico (séculos XV e XVI), Galileu (séculos XVI e XVII), Kepler (séculos XVI e XVII), Isaac Newton (séculos XVII e XVIII), até descambar para uma plêiade de cientistas do século XX, capitaneados por Albert Einstein, talvez o maior gênio de todos os tempos.
Também aqui, mais ou menos à mesma época em que se destacaram as literatas, surge Madame Marie Currie (séculos XIX e XX), primeiro ser humano, e única mulher, até hoje, a ganhar o prêmio Nobel duas vezes (física em 1903 e química em 1911).

E vem a nossa grande pergunta: por que as mulheres demoraram tanto, milênios, para se destacarem nas letras, nas ciências e nas artes?
A explicação, quase unânime, diz que isso se deveu à opressão dos homens, que as impedia de estudar e dedicar-se à vida intelectual. Embora essa opressão tenha existido mesmo, minha tese vai muito além. Primeiro, vem a pergunta: por que elas não se revoltaram, ao longo de séculos ou milênios? A revolta faz parte do comportamento humano, e muito estimulado pela inteligência. A revolta fez parte da evolução da humanidade, desde priscas eras.
Para mim não há dúvida de que por trás disso está o condicionamento feminino para a maternidade. Ter e criar filhos sempre realizou, e realiza, a mulher, até hoje. Isso lhes bastou, ao longo da evolução humana. Ao contrário dos homens, que não veem na paternidade uma realização psicológica. Seu interesse em ser pai prende-se mais a uma demonstração de macheza e a ter um herdeiro para o governo do seu clã.
Desde os tempos primitivos, as mulheres se voltavam para o interior do lar, ter e criar os filhos, e cuidar da alimentação da família. O homem, nessa distribuição de tarefas, voltava-se para fora: buscar o sustento, pela pesca e pela caça, e responder pela segurança, fazendo a guerra, que sempre acompanhou o ser humano. E cuidar dos filhos moldou a mulher, como um ser mais dócil, mais delicado e mais sensível. Já o homem, o guerreiro e caçador, desenvolveu em muito maior escala a agressividade, sem a qual não se faz a caça, muito menos a guerra. Foi essa divisão de tarefas que criou a dicotomia entre macho e fêmea na espécie, homem e mulher.
E assim chegamos aos nossos dias, conduzindo em nossos genes esse dimorfismo, essa diferenciação entre homem e mulher. Ainda hoje a mulher é quem responde pelos cuidados da prole, e numa escala maior do que geralmente se imagina. A união da família depende profundamente dela. Alguém já disse que, quando morre um pai, desfaz-se uma união conjugal. Quando morre a mulher, desfaz-se uma família. As separações conjugais, em sua imensa maioria, devem-se ao homem, quase sempre formando uma nova família, com uma mulher mais jovem, e largando a prole que possuía. Isso não faz parte dos impulsos - ou compulsões - femininos (salvo exceções). A mulher realiza-se com a manutenção da família ao seu redor, como a galinha que agasalha os pintinhos sob suas asas, com ou sem um marido. E não raro, com a separação, ela assume o sustento material dos filhos. Também é ela, mais do que o homem, quem implanta a cultura que haverá de moldar o comportamento dos filhos pela vida afora.
      Mas eis que chegamos ao século XX.
      E a mulher descobre que ser mãe não a impede de trabalhar fora de casa, e até mesmo disputar com os homens o privilégio de serem luminares dos frutos da inteligência, as letras, as ciências e as artes. Como aquelas pioneiras, Madame Curie e Virgínia Woolf. E que ser mãe é algo instintivo, desligado da razão, que os animais em geral também o fazem, e muito bem. Que a inteligência é o que distingue o ser humano dos outros animais. E que ela, mulher, pode e deve explorar a sua inteligência, sem abdicar de sua missão de mãe.
      Pelo que falei antes, podemos tirar uma conclusão que para alguns soará polêmica: a mulher chegou ao século XXI mais preparada para a civilização do que o homem. Pois este obviamente não perdeu, em seus genes, os impulsos de agressividade, tão necessários para guerrear e caçar. E hoje, esses impulsos agressivos mais o atrapalham do que ajudam. É graças a eles que temos tantas mortes violentas, assaltos e estupros, quase uma exclusividade masculina. Uma evidência disso são os números de encarcerados. Em 2014, enquanto a população carcerária brasileira total era de 622 mil, a população feminina era de 37 mil, isto é, menos de 6 por cento. Os homens respondiam pelos demais 94 por cento, 584 mil. E é porque em 14 anos, de 2.000 a 2014, esse número subiu 567%: em 2.000 tínhamos apenas 5.600 mulheres encarceradas, o que representa menos de um por cento da população total de 2014.
            Um exemplo do que disse aqui pode ser visto na família Jesus, Maria e José. Você sabe o que aconteceu com José, após o evento  em que Jesus, com doze anos de idade, se perde dos pais e é encontrado entre os doutores? Não, não sabe. Porque ninguém sabe. Os evangelhos não falam de quando ou como ele morreu. Enquanto eles registram Maria ao lado do filho, até mesmo quando ele é crucificado. E a ela Jesus dirige algumas de suas últimas palavra, encomendando-a ao seu melhor amigo, como fala o evangelista: "Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava [João], disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa."
      Mas, para falar dessa família, nada melhor do que a própria Maria, que eu trouxe aqui, especialmente para dizer algumas coisas a vocês.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ELVIS PRESLEY

  Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, Mississipi (seu irmão gêmeo não sobreviveu ao parto), filho de Gladys Love (1912 – 1958) e Vernon Elvis Presley (1916 – 1979). Aí viveu até 1948, e a casa é hoje objeto de peregrinação dos fãs.
            Foi um dos homens mais belos de sua época, com uma voz admirável, que, conjugados à arte musical (Rock and Roll principalmente), fizeram dele uma das maiores celebridades do século.


            Com 13 anos (1948), sua família mudou-se para Memphis, Tennesse, passando a morar numa humilde casinha com dois quartos, construída por seu pai. A peça dominante da família era Gladys, a mãe (como ocorre com frequência). Seu pai, homem de poucas ambições, pulava de um empreguinho para outro. A família dependia então da ajuda de amigos e da assistência social (que para os americanos representa uma espécie de humilhação: o americano com quem eu morei alguns anos, na juventude, recusava-se a usar auxílio desemprego). Em certo período, ele e a mãe tiveram que morar com parentes, quando o pai foi preso por oito meses, envolvido em um lance de estelionato.
            Na escola foi considerado "mediano", nos estudos, mas começou a se destacar um pouco nas apresentações. Sua iniciação musical foi na igreja que frequentava. Aos dez anos, em uma competição - Mississippi-Alabama Fair and Dairy Show, 3 de outubro, 1945 - classificou-se em quinto lugar. Alguns meses depois ganhou uma guitarra, como presente de aniversário, embora não fosse o que desejava (preferia coisas de cowboy). Começou a aprender um pouco do instrumento, com os tios. Mas não se apresentava em público, por timidez ("But I would never sing in public. I was very shy about it."). Tido pelos colegas como um pobre diabo, que gostava de cantigas caipiras ("a "trashy" kid who played hillbilly music"), objeto até de bullying pelos colegas (o que normalmente deixa marcas na personalidade).
            Vivendo em uma comunidade afro-americana, foi influenciado pelo blues dos negros (anos depois iriam acusá-lo de racismo contra os negros, o que não deve ser verdade, pelo que se observa de sua biografia).
            Entre 1953 e 1954 (18/19 anos) fez algumas tentativas inúteis de ser contratado/gravado como cantor, enquanto exercia atividades humildes. Ao fazer um teste na banda profissional Smith's, o líder da banda, Eddie Bond, aconselhou-o a continuar como motorista de caminhão, em que estava trabalhando, "pois nunca vai conseguir nada como cantor".[1] [Isso mostra como erram os que selecionam para emprego, rejeitando indivíduos às vezes de grande potencial, e, o que é pior, jogando de ladeira abaixo a sua autoestima e sua autoconfiança.]
            Cinco de julho de 1954 (com 19 anos) foi o grande dia - da virada - na vida de Elvis Aaron. Depois de um dia de tentativas frustradas com Elvis, no estúdio, quando este executou "That's All Right", um blues de 1946, pareceu que a ficha caiu para Sam Phillips, o dono da gravadora Sun Records. Aquilo era o som que ele tanto procurava para a sua gravadora. Três dias depois, quando o DJ Dewey Phillips colocou no ar That's All Right, em seu popular programa (de rádio) Red, Hot, and Blue Show, o telefone da rádio congestionou, com as pessoas querendo saber quem era o cantor (pensavam tratar-se de um negro, pela influência do blues). A comoção foi tanta, que Phillips repetiu a música nas últimas duas horas do programa. A roda da fortuna agora ia girar a favor de Elvis Aaron Presley.
            Naquele mesmo mês ele começaria seus shows, fazendo vibrar as plateias, já com seus movimentos sensuais, que enlouqueciam as garotas.
            O guitarrista Winfield "Scotty" Moore[2] e o contrabaixo Bill Black, que haviam acompanhado Elvis na sua 'epifania', imediatamente abandonaram seus empregos na banda onde tocavam, e formaram um trio com o novo fenômeno, gerenciados pelo DJ Bob Neal. Em outubro, três meses após a 'epifania', Elvis seria transmitido ao vivo por 198 estações de rádio, em 28 estados.
            Em 1955 Elvis (com 20 anos) se torna uma estrela regional, do Tennessee ao Texas. Faz sua primeira performance na televisão. Surge uma animosidade contra ele da parte dos rapazes, enciumados por sua atração sobre as garotas, nos shows. Há riscos de violência contra ele. Fecha contrato com a poderosa RCA Victor, pela enorme quantia (para a época) de 40.000 dólares. A grande empresa passa a investir pesadamente nele.
            Em 1956 aparece na televisão em âmbito nacional (Stage Show, da CBS).
            Fecha contrato cinematográfico de sete anos com a Paramount.
            Uma diocese de Wisconsin dirige correspondência ao FBI, acusando Presley como perigo à segurança dos Estados Unidos, por seus modos sensuais que causavam transtornos na juventude. Ed Sullivan (dono do programa mais popular dos Estados Unidos), declara que as apresentações de Elvis são indecentes para as famílias. Passa a ser chamado "Elvis the Pelvis" (uma contrariedade para ele). Ben Gross, do New York Daily News, escreve que "...Elvis, que agita seu pélvis [nos shows]... dá uma exibição de vulgaridade, recheada de animalismo, mais adequada a inferninhos e cabarés...". A televisão passa a mostrá-lo da cintura para cima...




Entre 1956 e 1958 (21 a  23 anos), ele consolida sua posição de grande astro do rock, e coloca a guitarra no lugar do piano, como centro da banda, o que ficou até hoje, representando o espírito da nova música, embora ele não fosse um guitarrista extraordinário (como Winfield Moore, Bo Dieddly ou Chuck Berry). Seu álbum "I Forgot to Remember to Forget" foi o primeiro, do rock, a atingir o topo do ranking Billboard, aí permanecendo por 10 semanas, um fenômeno. "Heartbreak Hotel", de autoria de Tommy Durden e Mae Boren Axton, lançado em 27 de janeiro de 1956, foi seu primeiro grande sucesso (pop hit), no  novo contrato, com a RCA  Victor.
Nos shows, as garotas pediam para Elvis autografar-lhes as coxas... O que enraivecia os religiosos.
            "Don't Be Cruel", com "Hound Dog" atingiu o topo das paradas por 11 semanas, marca só ultrapassada 36 anos depois.
            Para o historiador Marty Jezer, "Presley colocou o rock no centro da cultura popular".
            Os shows de Elvis tornaram-se eventos agitados, turbulentos, histéricos. Nos dois realizados no Mississippi-Alabama Fair and Dairy Show, 50 policiais foram destacados para conter a massa de jovens.
            Seus álbuns e gravações subiam rapidamente para o topo das paradas. Um jornal de Detroit declarou: "O problema de ir a um show de Elvis é que você corre o risco de morrer." Em Vancouver a multidão histérica destruiu o palco após o show.
            Frank Sinatra, que havia iniciado aquelas reações frenéticas dos jovens em seus shows, anos antes, criticou severamente o fenômeno (inveja, ressentimento ou conservadorismo?)... Elvis respondeu de maneira equilibrada. No entanto, Sinatra era superior em voz. Não foi à toa que os americanos o cognominaram de "The Voice" (A Voz), alcunha que ficou para sempre.
            Em 1958 é convocado para o exército, e comporta-se de maneira assertiva durante todo o serviço militar. Procurou agir naturalmente, sem privilégios, o que angariou a simpatia dos companheiros.
            Nessa época conhece Priscilla Beaulieu, por quem se apaixona, e com quem iria se casar, sete anos e meio depois. Retorna aos Estados Unidos no dia 2 de março de 1960. O trem em que viajou, de New Jersey para o Tennessee, ia congestionado, por causa dele.
            Em 12 de maio faz antológica gravação com Frank Sinatra (mesmo com as críticas anteriores deste: glória e dinheiro fazem de tudo...). Neste site do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Lt_E-iY6f58 você pode ouvir os dois monstros sagrados cantando My Way. Uma covardia para Elvis, no meu entender pessoal, que tenho My Way gravado em meu subconsciente, na voz espetacular de Sinatra. Como neste outro site do Youtube, em que Sinatra solta toda a potência da sua voz, como que livre da 'interferência' de Elvis: https://www.youtube.com/watch?v=kl4Uh5nOFAg (não me envergonho de dizer que já cheguei a derramar lágrimas, ouvindo a interpretação de My Way por Sinatra - não tanto pela voz dele: a letra é uma tremenda poesia, que, associada à melodia e à voz fenomenal, constituem uma obra fantástica).
            A RCA o homenageia com uma placa, pela venda de 75 milhões de discos.
            Mas a década de 60 marcou uma espécie de marcha a ré para Elvis. Ou melhor, de empreendimentos não muito gloriosos. Os 27 filmes que estrelou não foram propriamente fracassos, e até lucrativos. Mas longe da glória como popstar. A história se repetiu para ele, assim como para os Beatles. A carreira de ator exige mais do que um corpinho bonito e uma bela voz. Exige técnica, estudos, e mesmo vocação. A maioria dos grandes atores começaram cedo, e tiveram que ralar, em busca do domínio da arte. A beleza ajuda, muito, sim, mas não é o único requisito, que dispense os demais. Além disso, o cinema é uma produção em equipe. Não basta uma estrela. Exige um grande diretor, um grande escritor, um bom roteiro, e uma fila interminável de profissionais, a começar pelos câmeras, sem esquecer os coadjuvantes, e até o sujeito que cuida do cavalo (nos faroestes, por onde andou enveredando). Bem diferente de soltar o vozeirão e rebolar os quadris, diante de mociças histéricas, de sexo reprimido pela cultura medieval e religiosa. Concorrer com os monstros da área, como um Paul Newman (1925-2008) ou um Marlon Brando (1924-2004), era desafio grande demais, mesmo para ele. Sinatra, a meu ver, foi mais bem sucedido no cinema, embora não igualando-se àqueles luminares de Hollywood. 



 Paul Newman: http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/blog/2008/09/27/paul-newman-morre-aos-83-anos/
           
           Em junho de 1969, volta ao que ele sabia fazer realmente, em grande estilo: lança o álbum From Elvis in Memphis. Um de seus grandes trabalhos, com country, soul e rock.
            Pouco depois é fechado um contrato com um hotel de Las Vegas, de cinco anos, com salário anual de um milhão de dólares, para apresentações semanais. Lança com grande sucesso o álbum "From Memphis To Vegas/From Vegas To Memphis". Com "Suspicious Minds", atinge o topo das paradas (depois de sete anos fora dele, e pela última vez em sua carreira, nos Estados Unidos). No início de 1970 lança o álbum "On Stage". Em abril, lança o single (aqui chamávamos 'compacto' - com uma ou duas músicas em cada lado) "The Wonder of You", que atinge o topo na Inglaterra, e grande sucesso nos Estados Unidos. Em agosto é lançado o documentário  "Elvis: That's the Way It Is". Sofre ameaças de morte, ante extorsão de 50.000 dólares. O FBI passa a protegê-lo e ele vai para os shows armado.
            Mas a década de 60 trouxera uma contrariedade irreparável para Preslei. Enquanto ele praticamente saíra de cena, com sua experiência hollywoodiana, quatro novas figuras, formando uma bandinha, chamada The Beatles (da qual você deve ter ouvido falar), assumiram o posto de novos fenômenos, novos deuses do mundo pop, da juventude e da contracultura, em escala universal. E com um agravante muito sério: produzindo, eles próprios, como compositores, uma música de altíssimo nível, que jamais vai desaparecer nos anais da civilização. Eram os novos reis, os novos deuses (John Lennon chegou a declarar que eram mais famosos do que Jesus Cristo, causando grande irritação no mundo cristão).
            Sou suspeito para essa avaliação, porque vivenciei a ascensão dos Beatles, absorvido também pela paixão avassaladora que eles despertavam na juventude (rapazes e moças, é bom dizer) dos anos 60, abalando os alicerces das convenções sociais, do comportamento sexual, a chamada 'contracultura', de modo que o mundo nunca mais voltaria a ser o mesmo, mandando ao lixo os restolhos medievais da civilização.

 Beatles:
http://tabomdeacucar.blogspot.com.br/2010/12/34-curiosidades-sobre-os-beatles.html
                       
            Isso ficou eloquente no encontro de Elvis com o presidente americano, no dia 21 de dezembro (1970), Richard Nixon (aquele que perdeu a presidência, tragado pelo escândalo Watergate). Além de expressar o seu patriotismo americano, manifestou seu desprezo pelos hippies[3], e acusou os Beatles pela crescente cultura das drogas e a contracultura[4] em geral: ideias de uma pessoa "certinha", ao contrário do que apregoam muitos por aí.
            Porém o mais irônico estava por vir. Sugeriu ao presidente um Bureau of Narcotics and Dangerous Drugs, para combater o uso de drogas. Nixon considerou o encontro algo estranho ('awkward'), talvez bem informado, como sempre foi o governo americano, de que Elvis pisava em terreno pantanoso, com relação às drogas. E limitou-se a manifestar sua crença de que "Presley podia enviar uma mensagem positiva aos jovens, para o que, seria importante manter sua credibilidade" ('retain his credibility'). Enfim, desconversou. Mas Elvis perdeu uma boa oportunidade de ficar calado: disse que os Beatles (cujas canções ele executava regularmente) eram antiamericanistas (o que não era verdade) e disseminavam a apologia das drogas entre os jovens (isto sim, era verdade, acompanhei de perto). Posteriormente, Paul McCartney - que tivera um encontro com Elvis, juntamente com os demais Beatles, algum tempo antes - declarou que sentiu-se traído por Elvis: "A grande piada nisso é que nós [todos] estávamos usando drogas (ilegais) [naquele encontro] e vejam o que aconteceu com ele" [destruído pelas drogas até o fim] : "The great joke was that we were taking [illegal] drugs, and look what happened to him".



 Com Nixon, na Casa Branca, em 21 de dezembro de 1970:
https://en.wikipedia.org/wiki/Elvis_Presley
              Elvis, na verdade, parece nunca ter preferido o uso de drogas ilegais, além de evitar o álcool (a mais destruidora das drogas, embora legal), pois em sua família havia muitos exemplos de alcoólicos. E já se tinha conhecimento de que um dos fatores para o alcoolismo é genético (afirmam alguns estudiosos que um filho de alcoólico tem quatro vezes mais chance de também contrair a mazela). No entanto, afundou de cabeça nas drogas de farmácia ('pharmacopoeia'), muitas delas terrivelmente destrutivas. Como pagava para obter receitas médicas às carradas, achava-se dentro da lei. Seu médico principal, George C. Nichopoulos, falou: "achava que, conseguindo drogas através de um médico, não era um viciado comum, como os pobres diabos das ruas".[5] Os Beatles, que mergulharam fundo nas drogas ilegais, pegando até cadeia (Elvis nunca foi preso), foram, ironicamente, beneficiados por isso. Findaram reconhecendo seu fundo de poço (principalmente Lennon - Paul parece ter sido sempre mais comedido, mais equilibrado) e afastando-se do lixo químico. Lennon, pelo que sabemos, foi ajudado por Yoko Ono na recuperação (apesar do ódio contra ela, dos fãs idiotas), retornando numa carreira solo brilhante, e findou, como todos sabem, assassinado por um fã (?) estúpido (dezembro de 1980), quem sabe, drogado, e ainda hoje na cadeia. Para o indivíduo que atinge o fundo de poço da dependência química, é essencial, antes de tudo, reconhecer o problema e pedir ajuda. O que exige humildade (não confundir com 'simplicidade'). Jogar a toalha e declarar expressamente: 'por favor me ajudem, não aguento mais'. Elvis nunca fez isso. Em parte, talvez, porque no final da carreira estava cercado de uma corja mau-caráter (a "Máfia de Memphis"), que não desejavam nem de longe a sua recuperação, pois significaria o fechamento das torneiras do seu dinheiro (ele era seu "banco").
            Em fevereiro de 1972, Priscila pede a separação - por conta de traições dela (com Mike Stone, treinador de caratê). Segundo ela, Presley reagiu de maneira violenta, chegando a estuprá-la na ocasião. Em seguida Elvis casa-se com Linda Thompson, vindo a separar-se em 1976. Segundo Joe Moscheo, o fim do casamento foi um choque, do qual ele nunca se recuperou.
            Em 1973 (38 anos) teve dois comas por overdoses de barbitúricos e outros internamentos em semicoma, pela dependência de Demerol. Suas condições se deterioram rapidamente a partir de setembro. Lembra o guitarrista John Wilkinson: "Ele estava completamente fodido. Era óbvio que estava drogado, que havia algo terrivelmente errado com seu corpo. As palavras saíam tão mal nas canções, que mal se entendia... Eu o vi em seu camarim, arriado sobre uma cadeira, incapaz de se mover. Aconselhei: por que não cancela o tour e tira um ano" [de tratamento]?  E ele: "Não se preocupe. Está tudo bem..." E fala Marjorie Garber, crítico cultural: "Seus fãs agora eram matronas de meia idade e avós de cabelos brancos". [Quando o barco afunda, os ratos abandonam o navio...]
            Em julho de 1976 (41 anos), seu pai, que passara a se envolver nos negócios, demite a "Máfia de Memphis", os seguranças Red West, Sonny West e David Hebler, argumentando corte nas despesas. Dizem alguns que Elvis não teve coragem de encará-los. Em 1974 não entrara no estúdio.
            A RCA, que havia faturado alto com Elvis por mais de uma década, se desinteressa por ele. Em 1976 a gravadora envia um estúdio móvel a Graceland (a mansão de Elvis) para duas sessões de gravação. Mesmo naquele ambiente favorável, o trabalho foi "uma luta" para ele.
            Segundo o jornalista Tony Sherman, em inícios de 1977, "Presley se tornara uma caricatura grotesca de sua bela e energética figura. Muito obeso, sua mente afetada pela 'pharmacopoeia' que ingeria todos os dias, mal podia se arrastar até os concertos abrevidados". Em Alexandria, Louisiana, esteve em cena por menos de uma hora, e não se podia entendê-lo. Em Baton Rouge não conseguiu sair da cama e o restante do tour foi cancelado. No entanto, não aceitava suspender os compromissos. Em Rapid City, South Dakota, mal podia falar, incapaz de se movimentar, segundo o historiador Samuel Roy. Seu último (triste) show foi em 26 de junho, em Indianápolis, Indiana, no Market Square Arena.
            Morreu em 16 de agosto de 1977. Cerca de 80 mil pessoas acompanharam o sepultamento no Forest Hill Cemetery, ao lado de sua mãe. "No corpo dele foram encontradas 14 drogas, 10 em quantidade elevada"[6].
            Com a tentativa de roubarem seus restos mortais [a estupidez dos fãs parece não ter limites], estes foram transferidos em outubro, juntamente com os de sua mãe, para Graceland.
Merecia um fim mais digno, recuperado das drogas, como fizeram tantos outros. Sinatra andou fazendo bobagens por conta do álcool, mas não se entregou, parece ter moderado consideravelmente seu uso, e teve um fim digno (viveu mais de 80 anos), ao lado de sua última mulher. Lennon, como já falei, recuperou-se totalmente e poderia ainda estar vivo, se não fora a estupidez criminosa de um fã imbecil. Paul MacCartney continua vivo, apresentando-se em grande estilo, para satisfação dos fãs. Pelo que sabemos, não foi muito longe com as drogas.
Mas é errado afirmar que as celebridades são empurradas para as drogas, mais do que as pessoas comuns. A praga dos psicotrópicos está disseminada em toda a sociedade, em todos os níveis, indistintamente: do gari ao magnata, passando por médicos, advogados, escritores, professores, e até padres.
Outro erro, em que muitos incorrem, é acreditar que as drogas ajudam a produzir obras exóticas. Mentira. Ninguém, nem os gênios, é capaz de produzir algo que preste, lombrado ou bêbado. Quem afirmar o contrário estará mentindo. Muitos tentaram isso, para descobrir, depois de sóbrios, que o produto da lombra, ou bebedeira, tinha um só destino: a lata de lixo. Conheci isso pessoalmente, com alguns escritores, principalmente. Mas os leigos continuam a pensar o contrário. Um exemplo é a música Lucy in the Sky with Diamonds, que afirmavam, quando foi lançada, que seria fruto de uma lombra de Lennon: daí as iniciais de Lucy, Sky, Diamond - LSD. Pura mentira, segundo o próprio Lennon, que declarou, em uma entrevista (hoje disponível por aí), que tinha se inspirado em um desenho escolar de seu filho...
Enfim, Preslei é exemplo eloquente de que as drogas têm o mesmo efeito para todos (que não se recuperam): o fim triste, degradado, o desprezo da sociedade - família, amigos, e até o dono do bar. O Rei do Rock não merecia isso, por sua carreira. Mas foi o que aconteceu, infelizmente.
João Bosco Fernandes Mendes
Presidente da Academia Quixeramobinse de Letras, Ciências e Artes -     AQUILETRAS
Fonte principal:
Elvis Presley, Wikipedia, the freee encyclopedia (tradução):

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

25 DE JANEIRO, ANIVERSÁRIO DA MAGNÍFICA VIRGÍNIA WOOLF, A MAIOR ESCRITORA DO SÉCULO XX



                                                            Virgínia Woolf, em 1902 *

                                                     

            No dia 25 de janeiro de 1882, nascia em Londres (Hyde Park Gate, 22, Kensington) Virgínia Woolf, que viria a ser a mais proeminente escritora do modernismo, em todo o mundo, abalando seriamente o domínio masculino, num mundo dominado pelos homens desde priscas eras (e que se arrasta até nossos dias, embora muitas mulheres tenham seguido os passos dela, sobressaindo-se de lá para cá[1]).
            Virgínia nasceu de Sir Leslie Stephen (1832-1904) e Julia Prinsep Duckworth Stephen (1846-1895). Família inglesa de classe média alta, e de elevado nível intelectual. Ele, Leslie Stephen, escritor, historiador, crítico e praticante de montanhismo, além de editor do Dictionary of National Biography. Família numerosa, oito filhos, frutos de três casamentos (ambos os pais haviam casado anteriormente).
            Virgínia herdou a beleza da mãe, vindo a ser modelo, por algum tempo, para pintores e fotógrafos.
            Ao contrário de seus dois irmãos, Adrian e Julian, as filhas mulheres não foram enviadas para a universidade (Cambridge), sendo educadas em casa, o que viria a causar ressentimento na inteligente Virgínia, pela vida afora. Na época as famílias ainda privilegiavam os homens nos estudos, especialmente os universitários. Virgínia procurou compensar a carência com o autoaprendizado e com os intelectuais e estudantes (colegas dos irmãos) que frequentavam a casa.
            Um fato da infância, que deve ter marcado Virgínia, talvez profundamente,  foi o abuso sexual praticado por seus meios-irmãos, George e Gerald, lembrados por ela própria em sua autobiografia, Sketch of the Past (algo como: Notas sobre o Passado).
            Não se sabe exatamente que tipo de abuso (se chegou a haver relação plena), pois os biógrafos, algo reticentes - ou pudicos - não descrevem isso com clareza. Mas os estudiosos em geral falam que o fato afetou Virgínia, que nunca lidou bem com o sexo (hétero e homossexual). É possível também que tenha interferido na sua sanidade mental, pois veio a ser portadora do que chamamos hoje de transtorno bipolar. As estatísticas atuais reforçam esse entendimento. Grande percentual das mulheres que sofrem de algum transtorno psicológico (como o bipolar, o obsessivo-compulsivo, ou enveredam pelo alcoolismo), sofreram algum abuso sexual na infância. Naturalmente, isso não pode ser generalizado indistintamente. As pessoas reagem de maneiras diversas diante das mesmas situações. A sensibilidade não é a mesma para todos. E os gênios, pelo que vemos nas biografias, são pessoas extremamente sensíveis, e de mentes complexas.
           
            Virgínia esteve internada três vezes, em 1910, 1912 e 1913, em Burley House, instituição descrita como "a private nursing home for women with nervous disorder" (casa de saúde privada para mulheres com transtorno nervoso). Isso porém não interrompeu a sua produção literária.
                Virgínia (aparentemente bissexual), casou-se em agosto de 1912 com Leonardo Woolf, com quem manteve ótimas relações até o fim. Leonard amava, ou mesmo idolatrava, Virgínia, consciente de seu talento extraordinário para a literatura, a ponto de sacrificar sua própria carreira literária em benefício dela. Em seu ensaio A Room of One's Own, de 1929, ela escreveu: "A woman must have money and a room of her own if she is to write fiction" - Se uma mulher quer escrever ficção, precisa de dinheiro e um gabinete (sala) só dela". E ela possuía as duas coisas: a sala no jardim e o dinheiro da pequena editora que os dois montaram, a Hogarth Press, que viria a publicar as obras dela (que passaram também a render) e de outros grandes escritores, como T. S. Eliot, Laurens van der Post e outros.
             Virgínia deu contributos à evolução da técnica literária, desenvolvendo o que hoje chamamos 'diálogo (ou monólogo) interior', ou 'fluxo de consciência', em que o (a) personagem 'dialoga' consigo mesmo, mostrando o que vai em seus pensamentos e emoções. Mas a bem da verdade, a técnica não foi inventada por ela. Também foi usada, exaustivamente, por James Joyce, seu contemporâneo (coincidentemente, os dois nasceram e morreram nos mesmos anos - 1882 e 1941), na sua obra-prima, o Ulisses, como também por William Faulkner, além do brasileiro Graciliano Ramos. Daí em diante o diálogo interior tornou-se comum na literatura de ficção. O invento foi creditado, por Joyce, a um meio obscuro autor francês, Edouard Dujardin (1861- 1949), em sua obra 'Les Lauriers sont Coupés' (1888), lançada no Brasil em 2005 pela Editora Brejo: 'Os Loureiros Estão Cortados'. Como acontece tantas vezes a vida, o inventor não é quem leva a sua técnica ao máximo de desenvolvimento e beleza.
                Segundo a Wikipédia, Virgínia é um dos maiores romancistas do século XX, e um dos mais proeminentes modernistas. Produziu nove romances, seis volumes de contos, catorze de não ficção, um de teatro, duas biografias, e doze obras diversas.
                Em 1922 Virgínia conhece a escritora Vita Sackville-West, esposa de Harold Nicolson, com quem inicia um romance que duraria muitos anos. Segundo Vita, a relação teria sido mais 'platônica', tendo elas consumado relações sexuais apenas duas vezes. Mas Vita teve uma grande  importância na vida e na obra de Virgínia, que nela inspirou-se para escrever Orlando, uma de suas principais obras[2]. Mesmo assim manteve o relacionamento com o marido, não sabemos em que nível, que nunca a deixou de amar, admirar e apoiar.
                Como costuma ocorrer, as crises psíquicas de Virgínia eram intermitentes, sempre retornavam, levando-a a várias tentativas de suicídio ao longo da vida. Ao concluir o romance Between the Acts, em 28 de março de 1941, ela percebeu que estava entrando em novo surto. Escreveu então a seguinte carta ao marido:

Dearest, I feel certain that I am going mad again. I feel we can't go through another of those terrible times. And I shan't recover this time. I begin to hear voices, and I can't concentrate. So I am doing what seems the best thing to do. You have given me the greatest possible happiness. You have been in every way all that anyone could be. I don't think two people could have been happier till this terrible disease came. I can't fight any longer. I know that I am spoiling your life, that without me you could work. And you will I know. You see I can't even write this properly. I can't read. What I want to say is I owe all the happiness of my life to you. You have been entirely patient with me and incredibly good. I want to say that—everybody knows it. If anybody could have saved me it would have been you. Everything has gone from me but the certainty of your goodness. I can't go on spoiling your life any longer. I don't think two people could have been happier than we have been.
Querido, estou certa de que estou enlouquecendo novamente. E sinto que não devemos entrar em mais uma crise daquelas. E desta vez não vou poder me recuperar. Começo a ouvir vozes e não posso me concentrar. Por isso, estou fazendo o que parece a melhor coisa a fazer. Você me tem dado a maior felicidade possível. Você tem sido, de todos os modos, tudo o que alguém poderia ser. Não acredito que duas pessoas poderiam ser mais felizes, até esta terrível doença chegar. Não posso mais lutar. Sinto que estrago a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você irá fazê-lo, eu sei. Veja que não consigo nem escrever isto adequadamente. Não consigo ler. O que eu quero dizer é que devo a você toda a felicidade da minha vida. Você tem sido extremamente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso - e todo mundo o sabe. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você. Perdi tudo na vida, exceto a certeza da sua bondade. Não posso mais continuar estragando a sua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ser mais felizes do que nós fomos.


                Em seguida dirigiu-se ao rio Ouse, próximo à sua casa, colocou pedras dentro da roupa, entrou na água e afogou-se. O corpo foi encontrado vários dias depois. Leonardo, após cremar seu corpo, sepultou as cinzas sob uma árvore no jardim de sua casa, em Rodmell, Sussex.
              Entre os muitos estudos sobre o problema mental de Virgínia, sobressai o de Thomas Caramagno, de 1992, The Flight of the Mind: Virginia Woolf's Art and Manic-Depressive Illness (O Voo da Mente: a Arte de Virgínia Woolf e o Transtorno Maníaco-Depressivo), abordando o problema do "gênio-neurótico", em que analisa a crença de que a criatividade é, de certo modo, derivada do problema mental.
                Pessoalmente, tenho refletido muito sobre isso, por conta da lista enorme de gênios (ou pessoas que de algum modo se destacaram, principalmente nas artes), portadoras de algum transtorno psicológico (e por isso mesmo, tentando muitas vezes usar o álcool como paliativo): Beethoven, William Faulkner, Hermingway, Vinícius de Morais, Graciliano Ramos, e a lista é interminável. Acho que a loucura (ou simples neurose) não é sinônimo de genialidade. Mas que existe uma relação entre as duas coisas, existe. Por que, talvez nunca seja esclarecido.

João Bosco Fernandes Mendes 
Presidente da AQUILETRAS

(*) https://en.wikipedia.org/wiki/Virginia_Woolf


[1] No Brasil, veja-se a maravilhosa Patrícia Melo, com mais de dez obras.
[2] Que no Brasil pode ser adquirida na Livraria Saraiva, tanto em papel como em formato digital. Para quem domina o inglês, sugiro a versão bilíngue, em que se pode curtir também as palavras da própria autora, sem depender de um tradutor (a versão original é sempre melhor que a tradução).