Um grande avanço da
civilização se deu com o Cristianismo.
Com ele, o homem tomou consciência
da importância da sensibilidade, da compaixão, da empatia, isto é, da
capacidade de se identificar com outras pessoas, ou com o 'próximo', no linguajar
cristão.
Mesmo os não cristãos precisam
reconhecer que ali surgiu, ou foi promovida a preocupação com o outro, com os
demais seres humanos.
Cristianismo nada mais é do que a
ideologia de Cristo, independente de igrejas, ou seitas religiosas, que
reivindicam para si a primazia, ou a propriedade dela.
Hoje estamos aqui para comemorar a
chegada do cristianismo, mesmo sem a preocupação da data exata do nascimento de
Cristo. Não nos importa se ele nasceu exatamente em 25 de dezembro, como muitos
imaginam, ou não. Isso é irrelevante.
O que nos importa realmente é o
nascimento dessa ideologia, que veio mostrar a importância, e pregar a
vivência, da preocupação com o outro, da paz entre os homens, ou do
relacionamento amoroso, para usarmos um termos mais evangélico.
O Cristianismo teve momentos
difíceis, em que seus adeptos se afastaram muito da essência das ideias de
Cristo, especialmente na Idade Média, com a implantação do chamado Tribunal do
Santo Ofício, ou Inquisição, cujas consequências funestas devem ser muito bem
conhecidas de todos vocês, pessoas esclarecidas.
Mas hoje vemos, com satisfação, o
surgimento de um líder, da principal Igreja cristã, o Catolicismo, com ideias
arejadas, abertas a tendências, que eu, pessoalmente, não esperava ver ao longo
de toda a minha vida, muito embora numa quase certeza de que isso iria ocorrer
algum dia.
Acredito que esse Papa que aí está,
gostaria de avançar bem mais, porém nem tudo é possível, ele não tem poder
ilimitado.
Um ponto em que ele certamente gostaria
de avançar, e não sabemos se o fará, pelo menos de maneira satisfatória, para
os mais ansiosos por mudanças, diz respeito à participação da mulher nas coisas
da Igreja.
Eu costumo dizer que a mulher é o
lado melhor da humanidade. Porque ela foi mais preparada, pela natureza, ou por
outras entidades, como você preferir chamar, para desenvolver, em grau mais
elevado, algumas características próprias e exclusivas do ser humano. Não me
refiro à beleza, muito menos a sexo. Refiro-me a duas coisas não muito faladas,
não muito apregoadas, mas que eu considero de grande relevância para a evolução
humana, para o desenvolvimento da civilização.
Observem que o avanço das letras, da
ciência e das artes está muito ligado a nomes masculinos. Quando se fala da
música, por exemplo, quais os grandes nomes que nos ocorrem, de imediato?
Beethoven, Bach, Mozart, Schubert, Tchaikovski, e por aí vai, todos nomes
masculinos. Na Ciência, vem à frente Einstein, Newton e uma fila interminável
de homens, embora aqui apareça a Madame Curie, único ser humano a receber o
Prêmio Nobel duas vezes, em duas áreas distintas, física e química, em 1903 e
1911. Na literatura, ocorre-nos Dostoiévski, Gógol, Tolstoi, Flaubert, Víto
Hugo, e uma infinidade de homens, embora aqui também apareça uma Virgínia
Woolf, uma das mais proeminentes figuras do modernismo em todo o mundo.
Isso porque a mulher foi incumbida,
digamos assim, de voltar-se de maneira muito especial para a maternidade,
realizando-se apenas com ela, ao contrário do homem, que quase sempre não se
realiza inteiramente com a paternidade.
Mas por isso mesmo, por sua
incumbência de gerar e cuidar dos filhos, bem mais do que os homens, a mulher traz,
muito evoluídas, duas coisas que considero de grande relevância para a civilização,
para o desenvolvimento da humanidade: a sensibilidade
e a compaixão.
E você pode perguntar: por que a
compaixão? Sensibilidade é mais fácil de aceitar e entender. Por que a
compaixão? Porque é ela que caracteriza o ser humano de maneira especial. Só o
ser humano tem compaixão. Que foi traduzida por Cristo naquela frase
"Amai-vos uns aos outros".
É a compaixão que nos manda olhar o
outro, principalmente aquele que sofre, aquele portador de carências: uma
deficiência física ou mental, falta de bens materiais, a velhice extrema, a
fragilidade da criancinha, sofrimentos os mais diversos, tão característicos do
ser humano. Foi a compaixão que levou os seres humanos a se darem as mãos e
marcharem rumo à evolução, ao aperfeiçoamento, que os outros animais não
tiveram e nunca terão.
Mas para falar melhor de compaixão,
da necessidade que temos de mais compaixão no mundo, passemos a palavra a quem
fala disso melhor, com muita arte, muito beleza.
Música → DRÃO, Gilberto gil.