Sou professora e sinto-me lisonjeada quando assim me chamam: a
profissão antecedendo o nome. Professora Goreth Pimentel soa pra mim como uma
homenagem e me provoca alegria, uma sensação de reconhecimento pelo trabalho
que se confunde com minha própria vida.
Cá entre nós, muitas vezes fui provocada a sair da profissão, que
aos olhos de muitos pode parecer pequena, desvalorizada, ”sem futuro”. Nunca
senti assim, embora reconheça que ainda há um longo caminho a se percorrer na
política de valorização docente, apesar de alguns avanços significativos
conquistados.
Na verdade, sinto que vim ao mundo pra ser professora e assim
sendo, eterna estudante. O mundo está aí nos desafiando a ser melhores e não
tem como ser bom professor sem ser um bom pesquisador que investiga as soluções
para as dificuldades do chão da sala de aula e as aplica na prática em busca de
superação. Teimosia também é uma palavrinha que cai bem no nosso universo. Se a
gente se acomoda, o problema se agiganta e inferniza a nossa vida, enchendo de
amargura e desencanto o nosso coração.
Penso que é assim que a gente morre profissionalmente, quando perde o
encanto, fazendo por fazer, sem acreditar. Então, como seduzir o outro para
aprender, se perdermos a paixão por ensinar? Se a paixão contagia, a indiferença
gera um vazio que dói na alma.
Dizem que a paixão é efêmera, porém, a minha paixão docente
contraria o tempo. E por falar em tempo, nem conto mais os anos que tenho como
professora. Só sei que são muitos pelo cansaço que às vezes o corpo denuncia,
porém a alma é resiliente e me faz experimentar uma sensação bem bacana de
entrar em sala de aula sempre como se fosse a primeira vez. Continuo com aquele
ritual de preparação de organizar a mente, de retocar o batom e apresentar-me
“bem” pra honrar o nome de professora com todo o peso e a leveza da palavra.
Alguns mais condicionados ao modismo das palavras haverão de
corrigir-me e afirmar que não são apenas professores, são educadores. E eu,
embora tenha atração por inovações, bato o pé e não abro mão do meu título de
professora, porque compreendo que mudar apenas conceitos e definições acaba
sendo muito superficial. Precisamos mudar atitudes, são estas que nos definem e
fazem que como bons professores sejamos também excelentes educadores.
E por falar em atitudes e concepções de mundo, permitam-me
confessar uma coisa: tenho receio de professores que vivem excessivamente
apegados ao passado, como se pudessem transportá-lo para o presente. São os
saudosistas de plantão, que parecem indiferentes às inovações e à multiplicidade
de descobertas científicas e tecnológicas em que elas se fundamentam e que
podem nos inspirar a construir uma escola melhor.
Igualmente tenho medo de me transformar em um desses modernistas de
carteirinha que se apegam a qualquer discurso de mudança menosprezando o
passado pelo passado e se apegando ao novo pela novidade, estufando o peito com
arrogância e sem nenhuma criticidade, trocando de discurso como quem troca de
roupa a cada modismo educacional, que muitas vezes morre engolido pelo novo,
antes mesmo de ser compreendido e muito menos aplicado em sua essência,
equivocado geralmente pela superficialidade do consumismo teórico.
Quanta distância encontramos entre o mundo da teoria e o da
prática, ambas desassociadas pelo apressamento das mudanças que acabam
paradoxalmente abortando os projetos inovadores de escola! Não é à toa que nos
deparamos com uma escola agonizante, rejeitada por suas práticas ultrapassadas
e inoperantes, ou apenas maquiada com mudanças superficiais que não se permitem
mergulhar em águas mais profundas e roubam-nos o poder de compreender e
protagonizar as transformações que ecoam no silêncio e no grito de cada criança
e jovem insatisfeito e desencantado com uma escola cheia de conteúdos e vazia
de significado.
Guardo profundo respeito a todos os professores que passaram e
passam pela minha vida, cada um do seu jeito e no seu ritmo, tentando evoluir,
sair do piloto automático, romper com a mesmice. Tenho orgulho especialmente
dos que convivo mais de perto. São corajosos... saem de sua zona de
conforto e permitem-se novas aprendizagens, compreendendo que muito do que aprendemos
nos bancos da universidade precisa ser reaprendido e por vezes, desaprendido.
A eles, professores, que estão no chão das salas de aula de cada
escola, sentindo as dores e alegrias de ser professor, rendemos a nossa
homenagem de profundo respeito e admiração. Caminhemos juntos com a ternura e a
firmeza que nos movem rumo à construção de uma escola mais feliz e mais humana,
onde todos aprendam a aprender e a utilizar seus conhecimentos a serviço de um
mundo melhor para todos.
FELIZ VIDA DE PROFESSOR!
Maria Goreth Pimentel Nunes Amâncio
SECRETÁRIA DA AQUILETRAS - ACADEMIA QUIXERAMOBIENSE DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES
É um prazer ler você. Pela correção (sei o quanto você domina a nossa língua), pelas ideias - texto denso, pelo estilo desenvolto (alguma coisa nele bate com o meu - será coisa herdada, congênita?) Afinal, ambos somos Pimentel (meu nome não tem Pimentel porque o Anterinho, cabeça-dura, não quis, e meu pai (ou minha mãe), engoliu o sapo.
ResponderExcluirÉ uma pena que você não se dedique mais à literatura. Sei o que é isso. Coisa de mulheres! Vocês se realizam mesmo é com a maternidade. A literatura, as ciências, o mundo intelectual, fica em segundo plano. E assim a vida vai passando. Daqui a pouco será avó, uma revivescência do instinto maternal, e começa tudo de novo.
Como minha (competente) secretária, está intimada a escrever mais - e publicar aqui. A Solyna não pede que renuncie à vida intelectual.