quinta-feira, 22 de outubro de 2015

CONFISSÕES DE UMA PROFESSORA


 

     Sou professora e sinto-me lisonjeada quando assim me chamam: a profissão antecedendo o nome. Professora Goreth Pimentel soa pra mim como uma homenagem e me provoca alegria, uma sensação de reconhecimento pelo trabalho que se confunde com minha própria vida.
     Cá entre nós, muitas vezes fui provocada a sair da profissão, que aos olhos de muitos pode parecer pequena, desvalorizada, ”sem futuro”. Nunca senti assim, embora reconheça que ainda há um longo caminho a se percorrer na política de valorização docente, apesar de alguns avanços significativos conquistados.

     Na verdade, sinto que vim ao mundo pra ser professora e assim sendo, eterna estudante. O mundo está aí nos desafiando a ser melhores e não tem como ser bom professor sem ser um bom pesquisador que investiga as soluções para as dificuldades do chão da sala de aula e as aplica na prática em busca de superação. Teimosia também é uma palavrinha que cai bem no nosso universo. Se a gente se acomoda, o problema se agiganta e inferniza a nossa vida, enchendo de amargura e desencanto o nosso coração.
    Penso que é assim que a gente morre profissionalmente, quando perde o encanto, fazendo por fazer, sem acreditar. Então, como seduzir o outro para aprender, se perdermos a paixão por ensinar? Se a paixão contagia, a indiferença gera um vazio que dói na alma.

     Dizem que a paixão é efêmera, porém, a minha paixão docente contraria o tempo. E por falar em tempo, nem conto mais os anos que tenho como professora. Só sei que são muitos pelo cansaço que às vezes o corpo denuncia, porém a alma é resiliente e me faz experimentar uma sensação bem bacana de entrar em sala de aula sempre como se fosse a primeira vez. Continuo com aquele ritual de preparação de organizar a mente, de retocar o batom e apresentar-me “bem” pra honrar o nome de professora com todo o peso e a leveza da palavra.
     Alguns mais condicionados ao modismo das palavras haverão de corrigir-me e afirmar que não são apenas professores, são educadores. E eu, embora tenha atração por inovações, bato o pé e não abro mão do meu título de professora, porque compreendo que mudar apenas conceitos e definições acaba sendo muito superficial. Precisamos mudar atitudes, são estas que nos definem e fazem que como bons professores sejamos também excelentes educadores.

     E por falar em atitudes e concepções de mundo, permitam-me confessar uma coisa: tenho receio de professores que vivem excessivamente apegados ao passado, como se pudessem transportá-lo para o presente. São os saudosistas de plantão, que parecem indiferentes às inovações e à multiplicidade de descobertas científicas e tecnológicas em que elas se fundamentam e que podem nos inspirar a construir uma escola melhor.
    Igualmente tenho medo de me transformar em um desses modernistas de carteirinha que se apegam a qualquer discurso de mudança menosprezando o passado pelo passado e se apegando ao novo pela novidade, estufando o peito com arrogância e sem nenhuma criticidade, trocando de discurso como quem troca de roupa a cada modismo educacional, que muitas vezes morre engolido pelo novo, antes mesmo de ser compreendido e muito menos aplicado em sua essência, equivocado geralmente pela superficialidade do consumismo teórico.

     Quanta distância encontramos entre o mundo da teoria e o da prática, ambas desassociadas pelo apressamento das mudanças que acabam paradoxalmente abortando os projetos inovadores de escola! Não é à toa que nos deparamos com uma escola agonizante, rejeitada por suas práticas ultrapassadas e inoperantes, ou apenas maquiada com mudanças superficiais que não se permitem mergulhar em águas mais profundas e roubam-nos o poder de compreender e protagonizar as transformações que ecoam no silêncio e no grito de cada criança e jovem insatisfeito e desencantado com uma escola cheia de conteúdos e vazia de significado.
     Guardo profundo respeito a todos os professores que passaram e passam pela minha vida, cada um do seu jeito e no seu ritmo, tentando evoluir, sair do piloto automático, romper com a mesmice. Tenho orgulho especialmente dos que convivo mais de perto. São corajosos...  saem de sua zona de conforto e permitem-se novas aprendizagens, compreendendo que muito do que aprendemos nos bancos da universidade precisa ser reaprendido e por vezes, desaprendido.

     A eles, professores, que estão no chão das salas de aula de cada escola,  sentindo as dores e alegrias de ser professor, rendemos a nossa homenagem de profundo respeito e admiração. Caminhemos juntos com a ternura e a firmeza que nos movem rumo à construção de uma escola mais feliz e mais humana, onde todos aprendam a aprender e a utilizar seus conhecimentos a serviço de um mundo melhor para todos.
 MUITO PRAZER! SOU PROFESSORA!
FELIZ VIDA DE PROFESSOR!

Maria Goreth Pimentel Nunes Amâncio
SECRETÁRIA DA AQUILETRAS - ACADEMIA QUIXERAMOBIENSE DE LETRAS, CIÊNCIAS E ARTES

Um comentário:

  1. É um prazer ler você. Pela correção (sei o quanto você domina a nossa língua), pelas ideias - texto denso, pelo estilo desenvolto (alguma coisa nele bate com o meu - será coisa herdada, congênita?) Afinal, ambos somos Pimentel (meu nome não tem Pimentel porque o Anterinho, cabeça-dura, não quis, e meu pai (ou minha mãe), engoliu o sapo.
    É uma pena que você não se dedique mais à literatura. Sei o que é isso. Coisa de mulheres! Vocês se realizam mesmo é com a maternidade. A literatura, as ciências, o mundo intelectual, fica em segundo plano. E assim a vida vai passando. Daqui a pouco será avó, uma revivescência do instinto maternal, e começa tudo de novo.
    Como minha (competente) secretária, está intimada a escrever mais - e publicar aqui. A Solyna não pede que renuncie à vida intelectual.

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