domingo, 4 de outubro de 2015

HISTÓRIA DAS SECAS NO CEARÁ


 
               A AQUILETRAS, Academia de Letras, Ciências e Artes de Quixeramobim, implantada em 14 e agosto deste ano, tem como seu primeiro e mais relevante projeto, um estudo sobre o problema da água em nossa região: NOSSA ÁGUA, ONTEM HOJE A AMAHÃ.

               A primeira parte, NOSSA ÁGUA, ONTEM, aborda a história das secas no Ceará, que aliás foi o estado pioneiro na implantação do Serviço de Pluviometria, já em 1849, por iniciativa do Senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil (mais conhecido como 'Senador Pompeu', simplesmente).

               Vale salientar que as secas não se manifestam simultaneamente em todos os estados, havendo casos de chuvas normais em alguns e estiagem - plena ou parcial - em outros.

               Nosso objetivo aqui é comparar os dados de séculos anteriores, principalmente do Ceará, a partir do século XVII (cujos registros eram obviamente precários) com os mais recentes, com o objetivo de avaliar o possível agravamento do problema em nossos dias, ante as novas agressões ao meio-ambiente, ou causas meteorológicas, apontadas pelos serviços de observação, nacionais e internacionais.

               Apresento a seguir uma planilha com os registros das secas no Ceará, nos últimos quatro séculos, de quatro historiadores muito citados pelos estudiosos: Thomaz Pompeu de Souza Brasil, Raimundo Girão, Thomaz Pompeu Sobrinho, e Filgueira Sampaio, retirados da minha obra 'Euclides e o Conselheiro, Um Grito do Nordeste', de 1987, p. 28:

 

EXTENSÃO (Nº DE ANOS)
SENADOR POMPEU
RAIMUNDO GIRÃO
THOMAZ P. SOBRINHO
FILGUEIRA SAMPAIO
1
1614
 
 
 
1
1692
1692
 
 
Segundo Joaquim Alves, autor de 'História das Secas', no século XVII houve secas no Nordeste em: 1603, 1606, 1614, 1615, 1645, 1652, 1692 e 1693.
2
1710/1711
1710
 
 
1
1721
1721
 
 
5
1723/1727
1723/1724
 
 
2
1736/1737           (*)
1735/1737
 
 
3
1744/1745/1746 (*)
1744/1746
 
 
1
1772                      (*)
1772
 
 
3
1776/1777/1778
1776/1778
 
 
1
1784
1784
 
 
4
1790/1793
1790/1792
 
 
 
1
1804
1804
 
 
2
1809/1810 (*)
1809/1810
 
 
2
1816/1817 (*)
1816/1817
 
 
2
1824/1825
1824/1825
 
 
1
1827           (*)
1827
 
 
1
1830
1830/1833
 
 
1
1833            (*)
 
 
 
2
1844/1845
1844/1845
 
 
3
1877/1879
1877/1879
 
 
2
1888/1889
1888/1889
 
 
1
1891           (*)
 
 
 
1
1898           (*)
 
 
 
 
1
1900             (*)
1900
1900
1900
2
1902/1903  (*)
 
1903      (*)
1902 (*) 1903    
1
1907             (*)
 
 
1907         (*)
1
 
1915
1915
1915
1
 
 
1919
1919         (*)
2
 
 
1931/1932
1932
1
 
 
 
1936         (*)
1
 
 
1942
1942         (*)
 
 
 
1951/1953
 
 
 
 
 
1958         (*)
 
 
 
 
1970         (*)

(*) Secas parciais.             

              

               A partir desses dados, vemos que no século XVIII houve 22 anos de seca, e nos oitocentos, 19 anos, sendo seis secas de 2 anos, quatro de 3, duas de 4 e apenas uma de 5:

1710/1711 (2 anos) - 1723/1727 (5) - 1735/1737 (3) - 1744/1746 (3) - 1776/1778 (3 anos) - 1790/1793 (4) - 1809/1810 (2) - 1816/1817   (2) - 1824/1825 (2) - 1830/1833 (4) - 1844/1845 (2) - 1877/1879 (3) - 1888/1889 (2).

               A partir da segunda metade do século XX, com a entrada em cena da Funceme - Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, temos registros precisos das precipitações e uma classificação do que seja "seca", em termos numéricos: os anos em que as precipitações ficam abaixo de 493,2 milímetros. Segundo esse critério, e os dados da Funceme, de 1951 a 2013 tivemos 20 secas, nos seguintes anos:

 

1951 (297,28 mm) - 1953 (390,97 mm) - 1954 (483,08 mm) - 1958 (206,87 mm - o anos mais seco do período) - 1966 (456,44 mm) - 1970 (370,31 mm) - 1972 (430,88 mm) - 1979 (428,89 mm) - 1981 (488,54 mm) - 1982 (477,81 mm) - 1983 (307,87 mm) - 1990 (426,84 mm) - 1992 (444,14 mm) - 1993 (289,31 mm) - 1998 (241,5 mm) - 2001 (442,86 mm) - 2005 (444,93 mm) - 2010 (302,27 mm) - 2012 (302,47 mm) - 2013 (376,79 mm).

 

               O Século XX teve portanto 25 anos de seca, o campeão dos quatro séculos estudados. Mas o século atual, com sete anos ruins (considerando 2014 e 2015), de um total de 15, quase cinquenta por cento do período, apresenta-se como o pior de todos, capaz de levantar preocupação mesmo nos mais otimistas.

               Embora este levantamento não pretenda ser conclusivo, dada a pobreza de bons dados disponíveis, ele aponta para uma deterioração das condições climáticas proporcionadoras de chuvas. O que indica a necessidade de os governos voltarem suas atenções - na busca de água, destinada ao consumo humano, animal e agrícola - para outras fontes, além das precipitações chuvosas, como a dessalinização da água do oceano e, principalmente, a implantação de estações de tratamento para a reutilização das águas nas regiões urbanas.

 

João Bosco Fernandes Mendes

Presidente da AQUILETRAS
- Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes

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