A AQUILETRAS, Academia de Letras,
Ciências e Artes de Quixeramobim, implantada em 14 e agosto deste ano, tem como
seu primeiro e mais relevante projeto, um estudo sobre o problema da água em
nossa região: NOSSA ÁGUA, ONTEM HOJE A AMAHÃ.
A primeira parte, NOSSA ÁGUA,
ONTEM, aborda a história das secas no Ceará, que aliás foi o estado pioneiro na
implantação do Serviço de Pluviometria, já em 1849, por iniciativa do Senador
Thomaz Pompeu de Souza Brasil (mais conhecido como 'Senador Pompeu',
simplesmente).
Vale salientar que as secas não
se manifestam simultaneamente em todos os estados, havendo casos de chuvas
normais em alguns e estiagem - plena ou parcial - em outros.
Nosso objetivo aqui é comparar os
dados de séculos anteriores, principalmente do Ceará, a partir do século XVII
(cujos registros eram obviamente precários) com os mais recentes, com o
objetivo de avaliar o possível agravamento do problema em nossos dias, ante as
novas agressões ao meio-ambiente, ou causas meteorológicas, apontadas pelos
serviços de observação, nacionais e internacionais.
Apresento a seguir uma planilha
com os registros das secas no Ceará, nos últimos quatro séculos, de quatro
historiadores muito citados pelos estudiosos: Thomaz Pompeu de Souza Brasil,
Raimundo Girão, Thomaz Pompeu Sobrinho, e Filgueira Sampaio, retirados da minha
obra 'Euclides e o Conselheiro, Um Grito do Nordeste', de 1987, p. 28:
EXTENSÃO (Nº DE
ANOS)
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SENADOR POMPEU
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RAIMUNDO GIRÃO
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THOMAZ P. SOBRINHO
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FILGUEIRA SAMPAIO
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1
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1614
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1
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1692
|
1692
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|
Segundo Joaquim Alves, autor de 'História das Secas', no
século XVII houve secas no Nordeste em: 1603, 1606, 1614, 1615, 1645, 1652,
1692 e 1693.
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2
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1710/1711
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1710
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1
|
1721
|
1721
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5
|
1723/1727
|
1723/1724
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2
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1736/1737
(*)
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1735/1737
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3
|
1744/1745/1746
(*)
|
1744/1746
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|
1
|
1772 (*)
|
1772
|
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|
3
|
1776/1777/1778
|
1776/1778
|
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|
1
|
1784
|
1784
|
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|
4
|
1790/1793
|
1790/1792
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1
|
1804
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1804
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2
|
1809/1810
(*)
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1809/1810
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|
2
|
1816/1817
(*)
|
1816/1817
|
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|
2
|
1824/1825
|
1824/1825
|
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|
1
|
1827 (*)
|
1827
|
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|
1
|
1830
|
1830/1833
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1
|
1833 (*)
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2
|
1844/1845
|
1844/1845
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3
|
1877/1879
|
1877/1879
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|
2
|
1888/1889
|
1888/1889
|
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|
1
|
1891 (*)
|
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|
1
|
1898 (*)
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1
|
1900 (*)
|
1900
|
1900
|
1900
|
2
|
1902/1903 (*)
|
|
1903 (*)
|
1902
(*) 1903
|
1
|
1907 (*)
|
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1907 (*)
|
1
|
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1915
|
1915
|
1915
|
1
|
|
|
1919
|
1919 (*)
|
2
|
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1931/1932
|
1932
|
1
|
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|
1936 (*)
|
1
|
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1942
|
1942 (*)
|
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1951/1953
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1958 (*)
|
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1970 (*)
|
(*) Secas parciais.
A partir desses dados, vemos que
no século XVIII houve 22 anos de seca, e nos oitocentos, 19 anos, sendo seis
secas de 2 anos, quatro de 3, duas de 4 e apenas uma de 5:
1710/1711
(2 anos) - 1723/1727 (5) - 1735/1737 (3) - 1744/1746 (3) - 1776/1778 (3 anos) -
1790/1793 (4) - 1809/1810 (2) - 1816/1817 (2)
- 1824/1825 (2) - 1830/1833 (4) - 1844/1845 (2) - 1877/1879 (3) - 1888/1889 (2).
A partir da segunda metade do
século XX, com a entrada em cena da Funceme - Fundação Cearense de Meteorologia
e Recursos Hídricos, temos registros precisos das precipitações e uma
classificação do que seja "seca", em termos numéricos: os anos em que
as precipitações ficam abaixo de 493,2 milímetros. Segundo esse critério, e os
dados da Funceme, de 1951 a 2013 tivemos 20 secas, nos seguintes anos:
1951 (297,28 mm) - 1953 (390,97 mm) - 1954 (483,08
mm) - 1958 (206,87 mm - o anos mais seco do período) - 1966 (456,44 mm) - 1970 (370,31
mm) - 1972 (430,88 mm) - 1979 (428,89 mm) - 1981 (488,54 mm) - 1982 (477,81 mm)
- 1983 (307,87 mm) - 1990 (426,84 mm) - 1992 (444,14 mm) - 1993 (289,31 mm) - 1998
(241,5 mm) - 2001 (442,86 mm) - 2005 (444,93 mm) - 2010 (302,27 mm) - 2012 (302,47
mm) - 2013 (376,79 mm).
O Século XX teve portanto 25 anos
de seca, o campeão dos quatro séculos estudados. Mas o século atual, com sete
anos ruins (considerando 2014 e 2015), de um total de 15, quase cinquenta por
cento do período, apresenta-se como o pior de todos, capaz de levantar
preocupação mesmo nos mais otimistas.
Embora este levantamento não
pretenda ser conclusivo, dada a pobreza de bons dados disponíveis, ele aponta
para uma deterioração das condições climáticas proporcionadoras de chuvas. O
que indica a necessidade de os governos voltarem suas atenções - na busca de
água, destinada ao consumo humano, animal e agrícola - para outras fontes, além
das precipitações chuvosas, como a dessalinização da água do oceano e,
principalmente, a implantação de estações de tratamento para a reutilização das
águas nas regiões urbanas.
João Bosco Fernandes
Mendes
Presidente da
AQUILETRAS
- Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e
Artes
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